E como o prometido é devido, aqui estou a fazer o rescaldo do reinado de Queiroz, depois da selecção ter conseguido o apuramento para o Mundial. Tinha dito há uns tempos que não ia ser brando na minha avaliação. E não vou. No entanto, não tenho por objectivo fazer um exercício comparativo com Scolari. O brasileiro já foi, é passado. E ainda bem. O que não quer dizer que o presente seja bom.
Queiroz, na caminhada para o Mundial, e contando com os amigáveis, convocou 47 jogadores: Quim, Eduardo, Daniel Fernandes, Bosingwa, Miguel, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Fernando Meira, Pepe, Antunes, Deco, Raul Meireles, Duda, Carlos Martins, João Moutinho, Manuel Fernandes, Simão, Danny, Nani, Nuno Gomes, Hugo Almeida, Maniche, Pedro Mendes, Yannick, Tonel, Cristiano Ronaldo, Quaresma, Rolando, Tiago, César Peixoto, Gonçalo Brandão, Eliseu, Orlando Sá, Beto, Nélson, Edinho, Moreira, Zé Castro, Boa Morte, Rui Patrício, Miguel Veloso, Liedson, Nuno Assis, Hilário, Ricardo Costa, Fábio Coentrão.
Estreou na selecção 14 jogadores: Danny, César Peixoto, Eduardo, Rolando, Orlando Sá, Nélson, Gonçalo Brandão, Edinho, Beto, Zé Castro, Eliseu, Moreira, Liedson, Fábio Coentrão.
Ouvimos falar tantas vezes na propalada renovação e que por isso os resultados se ressentiram. Será mesmo assim? Dos 14 jogadores que Queiroz estreou, apenas Danny, Eduardo e Liedson se revelaram apostas constantes para o 11 e Rolando para o banco. Todos os outros estrearam-se e pouco mais vezes voltaram a ser chamados.
Dos 34 que foram chamados e já eram internacionais, vários foram os que tiveram o mesmo caminho da maioria dos estreantes. Chegamos então à conclusão de que os jogadores mais utilizados/chamados por Queiroz já eram, na sua maioria, opção habitual para Scolari: Bosingwa, Miguel, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Pepe, Deco, Raul Meireles, João Moutinho, Simão, Nani, Nuno Gomes, Hugo Almeida, Maniche, Cristiano Ronaldo, Tiago, Miguel Veloso. O núcleo duro foi formado por Eduardo, Bosingwa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Duda, Pepe, Raul Meireles, Deco, Simão, Nani/Danny, Cristiano Ronaldo. Ora, desta lista, podemos perfeitamente perceber que Queiroz inovou na baliza (depois de 4 jogos com Quim, apostou definitivamente em Eduardo), no posto de defesa-esquerdo (experimentou Antunes, Paulo Ferreira e Gonçalo Brandão até apostar em definitivo em Duda) e... pouco mais. Portanto, a questão da renovação é uma falsa questão.
O maior erro herdado de Scolari: a braçadeira de capitão no braço de Cristiano Ronaldo. Esta questão já foi demasiadamente discutida na comunicação social. Todos sabemos que Ronaldo não tem o perfil de um capitão de uma selecção. É certo que o erro inicial foi de Scolari, mas se Queiroz não tem capacidade de o mudar, é por mera incompetência da sua parte.
Baliza: Queiroz foi corajoso ao deixar de chamar Ricardo. Experimentou Quim, Eduardo, Daniel Fernandes, Beto, Moreira e ainda chamou Rui Patrício e Hilário. Ficou Eduardo. Na minha opinião, não temos um grande guarda-redes desde Vítor Baía. No entanto, do lote actualmente disponível, considero Beto o melhor. Não sendo titular no Porto, as opções resumem-se a Quim, titular no Benfica, Rui Patrício, titular no Sporting, e Eduardo, titular no Braga. Temos ainda um bom guarda-redes titular num dos clubes mais importantes da Roménia, actualmente: Nuno Claro. Neste contexto, parece-me que Eduardo é, apesar de tudo, a melhor opção actualmente. Depois Rui Patrício, e depois Quim.
Laterais: Na direita não há muito para inventar. Os melhores laterais direitos portugueses são Bosingwa e Miguel. Já na esquerda o caso muda de figura. Queiroz experimentou 4, mas mais experiências ainda se podem fazer. A verdade é que não há um lateral esquerdo bom em Portugal. Antunes não joga na Roma, Gonçalo Brandão não tem estatuto de selecção e joga a central no último classificado da liga italiana, Paulo Ferreira não pisa nunca no Chelsea (e como jogador já deu o que tinha a dar, tanto na direita como na esquerda). Chegamos a Duda. O jogador do Málaga cruza muito bem, tem um excelente pé esquerdo mas não defende bem. É um facto. Opções para fazer o lugar: Miguel Veloso, que já referiu várias vezes publicamente que não gosta de jogar na posição (é pena, pois para mim é a melhor opção para o lugar); Fábio Coentrão, adaptado por Jesus e talvez a segunda melhor opção neste momento; César Peixoto, sem qualidade para a selecção; e pouco mais, a verdade é esta. José Gonçalves joga no modesto Hearts, o que não permite aferir do seu valor para uma eventual chamada. Em Portugal, sinceramente, não vejo nenhum jogador com capacidade para fazer o lugar. É um problema grave. Scolari foi tendo Rui Jorge e Nuno Valente e depois resolveu o problema adaptando Paulo Ferreira, com o resultado que se viu no Euro 2008. Queiroz tem apostado em Duda, mas corre o risco de obter o mesmo resultado. Pode ainda pensar-se em Jorge Ribeiro ou Caneira, mas as 2 últimas épocas de ambos retiraram-lhes todas as hipóteses de ser opção.
Centrais: O posto melhor servido da nossa selecção. Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Pepe dão todas as garantias de qualidade. Já Rolando nem por isso. Para mim, Meira ainda tinha lugar como 4º central. Zé Castro não tem a qualidade exigida, tal como Ricardo Costa, e Tonel não joga com regularidade. Depois do Mundial certamente veremos Daniel Carriço a emergir aos AA.
Médios centro: outro posto onde a qualidade abunda. Pepe pode jogar nesta posição, como tem vindo a acontecer (na minha opinião é mesmo onde joga melhor), Pedro Mendes (o melhor médio centro português), Raul Meireles, João Moutinho, Tiago, Miguel Veloso. Carlos Martins seria opção não fossem as lesões constantes de que padece. E Ruben Amorim, se ganhasse a titularidade absoluta no Benfica, seria certamente chamado. Há ainda Manuel Fernandes, que em condições normais é titular no Valencia e poderá assim reclamar o lugar na selecção.
Nº 10: Há anos que se ouve dizer que só existe Deco. Sabemos bem que não. Nuno Assis é um senhor jogador, Silas esteve sempre disponível (agora já não é jogador de selecção, mas durante muitos anos foi), Hugo Viana está a regressar à melhor forma de sempre e um novo valor emerge no futebol português: Ruben Micael. E ainda há Danny, que para mim é melhor 10 do que extremo ou avançado. Portanto, Queiroz só não chamará mais nenhum 10 além de Deco se não quiser.
Extremos: Cristiano Ronaldo, Nani, Simão. Estes são os indiscutíveis. E haverá outros em condições de ser chamados? Actualmente, não me parece. Quaresma não joga regularmente há 2 anos, Boa Morte está lesionado até ao fim da época (e mesmo que não estivesse, já não tem qualidade para jogar a este nível) e Eliseu não é jogador de selecção. Sobra... Varela? Também ainda não mostrou qualidade suficiente para ser chamado à selecção. Mas tudo depende do sistema adoptado por Queiroz. Se for 4-4-2 losango, não usa extremos. Se for 4-3-3, vai precisar de arranjar mais um.
Pontas-de-lança: idêntico ao posto de lateral-esquerdo. Queiroz chamou Hugo Almeida, Nuno Gomes, Yannick (que não chegou a utilizar), Edinho, utilizou Ronaldo na frente e, já na fase do desespero, naturalizou Liedson. A verdade é que não há um bom ponta-de-lança em Portugal. Hugo Almeida não tem qualidade para ser primeira escolha da selecção, Nuno Gomes também já não, Edinho não é solução e utilizar Ronaldo nessa posição também é um erro. Liedson não se dá bem a jogar na frente sozinho. Portanto, que se poderá fazer? Olhamos para o panorama português e não vemos ninguém que possa preencher esta lacuna. Yannick e Postiga não são opções. Pessoalmente, tenho uma opção: João Tomás. Não me importa que já tenha 35 anos. Marca golos como quando tinha 24. E é o melhor ponta-de-lança português.
Em resumo, Queiroz levou um ano a queixar-se que renovar a selecção leva o seu tempo e portanto era impossível conseguir resultados imediatos. É mentira, pelo simples facto de que apenas houve renovação na baliza, no posto de lateral-esquerdo e no ataque, primeiro com Danny e depois com Liedson. Nada mais. Será assim tão difícil construir uma equipa onde apenas 3 jogadores são novos? Não me parece.
Portugal começou com a normal vitória em Malta. A derrota em casa com a Dinamarca foi o virar de página que levou ao descalabro que se veio a suceder. Curiosamente, esse foi um dos jogos em que a selecção portuguesa fez melhor exibição, falhou vários golos feitos e acabou por perder o jogo nos últimos momentos por manifesta infelicidade mas também incompetência defensiva. Depois começou a sucessão de erros de Queiroz. Recebemos a Suécia com um medo tremendo e considerando que o empate era um belo resultado. Soube a muito pouco. Depois, o empate com a Albânia. A jogar contra 10 desde os 39 minutos, a equipa portuguesa não teve arte nem engenho para marcar um único golo aos fracos albaneses. Talvez o facto de ter jogado sem avançado fixo tenha contribuído para isso. Novo jogo com a Suécia, mesma atitude defensiva, mesmo resultado e vida cada vez mais difícil para a selecção e para o imperturbável Queiroz. Mudanças? Nada disso! Está tudo bem assim e vamos conseguir o apuramento, dizia ele. Depois o jogo em que a vaca começou a sorrir-nos: vitória na Albânia aos 90+3 e Queiroz a pensar que finalmente estava no caminho certo. Novamente sem avançados, viajámos para a Dinamarca, enfrentando o jogo mais importante do apuramento. Quando é que marcámos o golo do empate? Com Liedson e Nuno Gomes em campo. Um mero detalhe. No jogo seguinte, mais do mesmo e apenas um magro 1-0 na Hungria. Os 2 últimos jogos do apuramento chegaram e só a vitória interessava nos 2, mais a derrota da Suécia na Dinamarca. Miraculosamente, as 2 coisas aconteceram. Portugal fez o que lhe competia (finalmente com pelo menos um jogador na frente, Liedson) e a Suécia perdeu. Presença no playoff assegurada, venha a Bósnia. A ganhar aos 36 minutos em casa, Queiroz mais uma vez não teve a arte nem o engenho para procurar vencer por mais, fazendo recuar a equipa para assegurar a magra vitória. Não fosse a vaquinha que lhe sorria desde a viagem à Albânia e Portugal teria sofrido pelo menos um golo em casa, devido ao medo demonstrado. No último jogo, finalmente fizemos uma boa exibição e lá garantimos o apuramento.
Cômputo geral: Queiroz não tem feito um grande trabalho, a verdade é esta. Não se vê uma grande evolução em relação ao trabalho realizado por Scolari, os problemas herdados do brasileiro mantêm-se e Queiroz não tem sabido resolvê-los. Vai apenas colocando remendos. Na abordagem aos jogos, se Scolari já denotava por vezes uma cultura bem mais defensiva do que atacante, Queiroz abusa. Exaspera ver a selecção jogar (na verdade, é um futebol à Quique, quando o que todos gostaríamos era de ver Portugal a jogar à Jesus). Sempre achei que estaríamos presentes no Mundial, porque apesar de tudo temos jogadores muito bons, alguns dos melhores do mundo. Mas não prevejo uma grande fase final. Se chegarmos aos oitavos-de-final já será "bom". Mas com um bom treinador, teríamos equipa para as meias-finais, no mínimo. Paciência. É o que temos.
ONZE PARA A TAÇA
Há 3 horas
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