domingo, 31 de outubro de 2010

JVP


Benfica-P. Ferreira

1 - Benfica tem qualidade mas falta-lhe paixão

Foi uma vitória justa do Benfica, que continua com qualidade mas sem a mesma paixão que mostrava na época passada. Digo isto porque permite que os adversários joguem mais, além de não ser tão pressionante, sólido e dinâmico como foi. Mesmo assim, conseguiu ter momentos de grande qualidade, sobretudo quando a bola passou pelos pés de Coentrão e Aimar, como foi o caso do primeiro golo. Mas aquele Benfica que marcava e ia à procura do golo seguinte não se vê neste. Agora vê-se um Benfica a marcar e preocupado com o resultado.

2 - Lance de grande nível de Aimar

Nos primeiros dez minutos viu-se um Benfica com mais iniciativa - como seria de esperar -, embora a jogar de forma lenta, e um Paços de Ferreira com linhas muito recuadas e juntas, para encurtar os espaços, e a sair rapidamente para o contra-ataque, sempre à espera de um erro do adversário. Foi isso que sucedeu aos dez minutos, quando Rondon obrigou Roberto a uma defesa boa mas complicada. Como a dinâmica do Benfica não era a melhor, porque não impunha velocidade no jogo, teve de ser um lance individual e de grande nível de Aimar a dar um safanão no encontro e a fazer o primeiro golo.

3 - Boa solução táctica: a movimentação de Coentrão e Gaitán

Saliento um aspecto táctico do Benfica que se notou sobretudo na primeira parte: Coentrão e Gaitán abrem nas alas para alargar o jogo do Benfica mas depois vão para dentro para receberem a bola. Eles fazem esse movimento para serem uma alternativa a Aimar sempre que o argentino, na sua movimentação entre linhas, não consegue libertar-se. É uma boa solução porque cria a dúvida na equipa que defende: é que se o médio que se encarrega da marcação acompanhar Coentrão ou Gaitán está a abrir espaço para a subida do lateral do Benfica; se não acompanhar, um dos dois fica solto para receber a bola!

4 - Súbita apatia benfiquista e Paços a tentar o empate

O Paços acusou o golo e não reagiu de imediato, aproveitando o Benfica para se galvanizar e criar várias situações de golo entre os 20 e os 24 minutos. A partir dos 28', porém, o Paços começou a chegar à área contrária e com perigo, aproveitando uma súbita apatia dos donos da casa, que baixaram o ritmo e concederam mais espaços. De tal maneira que a primeira parte terminou com os pacenses a tentarem o golo do empate.

5 - Rondon inconformado mas penálti matou o jogo

A segunda parte começou como tinha terminado a primeira, com um ritmo lento. O Benfica tentava gerir o jogo mas a falta de agressividade e, por vezes, algum desleixo permitiam ao Paços subir mais no terreno e aproximar-se da sua área com perigo. Embora os visitantes não tivessem tido uma grande oportunidade de golo, o resultado (1-0) era perigoso. Aos 52 minutos, Rondon - o jogador dos pacenses mais perigoso e mais inconformado com o resultado - voltou a pôr à prova Roberto, com quem travou um interessante duelo e que esteve muito bem neste jogo. O penálti convertido por Kardec, no entanto, matou o jogo e, embora o Paços ainda tivesse tentado reagir, o Benfica já geria melhor os acontecimentos. A expulsão de Baiano contribuiu para fazê-lo com maior segurança.

6 - Ausência de Carlos Martins rouba dinâmica

Em jeito de conclusão, sublinho que a vitória do Benfica foi justa ainda que conseguida à custa de serviços mínimos. E a ausência de Carlos Martins ajudou a que assim fosse - trata-se de um jogador criativo e que remata bastantes vezes. Não sendo rápido, procura provocar desequilíbrios através dos seus passes rasgados e da circulação de bola. Na minha opinião, o Benfica é mais dinâmico quando Coentrão joga a lateral e Gaitán a médio esquerdo, com Carlos Martins no lado oposto do meio-campo. Na falta deste, sobrou para Coentrão e Aimar a missão de criar desequilíbrio

7 - Este resultado não passa ao lado do FC Porto

Acredito que este resultado do Benfica não passa ao lado do FC Porto que, se perder pontos, vê reduzir-se a vantagem e aumentar a pressão para o mano-a-mano entre ambos. Embora o FC Porto esteja num bom momento, com jogadores em boa forma e confiantes, não me parece que fiquem indiferentes a esta vitória benfiquista. Ainda estamos no primeiro terço do campeonato e nesta fase é preciso ter sempre um olho no burro e outro no cigano! André Villas-Boas, de resto, jogou pelo seguro ao alertar jogadores e adeptos - com a confiança em alta - que falta ainda muito por jogar e ainda nada está ganho. Aliás, à semelhança do que fez o Benfica na última época, quando viu necessidade de esfriar a euforia das pessoas e lembrar-lhes que poderia haver jogos menos bons. É que por vezes basta um ou dois resultados menos conseguidos para fazer baixar os índices de confiança de tal forma que passa a reinar a desconfiança.

sábado, 30 de outubro de 2010

50 anos de magia

O melhor jogador da história do futebol faz hoje 50 anos. Sobre Maradona já tudo foi dito, ele próprio se encarregou de o fazer, muitas das vezes. Nada do que eu viesse para aqui dizer ia fazer grande diferença. Maradona foi um talento único. Foi O talento. Passou por muita coisa, caiu muitas vezes, mas soube sempre levantar-se sem se pôr nas pontas dos pés. Por isso é que continuou sempre a ter o respeito das pessoas, e principalmente dos argentinos, que o veneram. Aconselho-vos a ler este texto de um correspondente argentino do jornal O JOGO, que está muito bom.

Depois disto, não resta muito mais para dizer sobre o Deus do futebol.

Aqui fica um vídeo que resume a carreira de Maradona nos Mundiais. Ao lado da façanha que conseguiu em 86, onde levou um país às costas para o título mundial, terá ainda de ser obrigatoriamente referido o trabalho que fez no Nápoles, um pequeno clube de Itália que Maradona levou ao topo do futebol italiano e da Europa. Isto é Maradona: um homem do povo, o homem que nunca teve vergonha de ser do povo e que na verdade nunca deixou de o ser, apesar do muito dinheiro que ganhou na vida. E, a juntar a tudo isto, sempre foi um grande patriota, um homem que dá tudo pelo seu país. Foi assim enquanto jogador, foi assim enquanto seleccionador da Argentina e continuará a ser sempre assim. Resta-me apenas dizer: Parabéns, Diego! E que continues por cá muitos mais anos.

Benfica 2 - 0 Paços de Ferreira - 9ª Jornada 2010/11

Quinta vitória seguida na Liga, quinto jogo consecutivo sem sofrer golos.. Não tendo feito uma exibição fantástica (no período entre o intervalo e o segundo golo fomos encostados pelo Paços), o Benfica somou mais 3 pontos que lhe permitem manter-se seguro no segundo lugar e pressionar o Porto, à condição com apenas quatro pontos de vantagem (seguramente irá vencer na Académica, mas temos de ter esperança). Nota positiva mais uma vez para Roberto (um grande guarda-redes, que já me fez engolir - e com juros - o que disse dele no início desta época) e neste caso para a aposta de Jesus, que, do grupo dos amarelados, só prescindiu de Carlos Martins e conseguiu que nenhum dos outros 3 visse o malfadado cartão que os afastaria do Dragão.


O Paços de Ferreira é uma boa equipa, orientada por um bom treinador. Nunca perdeu o sentido da baliza encarnada, teve mais cantos e o mesmo número de remates que o Benfica (na sua grande maioria muito perigosos e quase sempre por Nuno Santos, o melhor em campo do Paços) e demonstrou ser equipa para outros vôos, com alguns retoques no plantel em Janeiro. Mas a boa atitude pacense acabou por não significar grande coisa quando tem lugar um acontecimento como o que todos vimos aos 14 minutos. Não sei se para dar uma prenda ao seu ídolo, que completa meio século de vida este Sábado (falarei sobre isso mais detalhadamente noutro post), ou se apenas para mostrar que continua a saber fazer o que sempre fez de melhor nos palcos do futebol mundial, El Mago Aimar desenhou uma autêntica obra de arte, só ao alcance dos melhores. A resistência do Paços estava quebrada num lance de pura magia. Para ver e rever.



Depois do magnífico golo do argentino, o Benfica continuou a procurar o golo, com o Paços a nunca desistir do jogo. Desperdiçaram-se várias ocasiões até ao intervalo e os pacenses entraram a todo o gás na segunda parte, como já acima foi referido. O lance do penalty acabou por mudar novamente o rumo do jogo. Não fica totalmente claro se é lance para grande penalidade ou não. No meu entender, Cohene toca realmente primeiro em Coentrão e só depois na bola, e a ser assim há motivos para o assinalar da falta. Penso que o árbitro decidiu bem. Na cobrança, Kardec não falhou, alcançando o seu primeiro golo na Liga Sagres e fechando assim um jogo que não foi nada fácil para a equipa encarnada.


Sem forçar muito, o Benfica acabou por merecer totalmente os 3 pontos conquistados. Agora é recarregar baterias e apontar todos os canhões para a recepção ao Lyon, um jogo que irá decidir o nosso futuro na Liga dos Campeões. Se ganharmos, mantemos em aberto as possibilidades de passar aos oitavos-de-final. Se perdermos ou empatarmos, e partindo do princípio que o Schalke vencerá em Israel, resta-nos manter o 3º lugar para seguir para a Liga Europa. Mas eu acredito que com trabalho, dedicação e muita humildade, temos potencial e qualidade suficiente para ganhar em casa ao Lyon e manter acesas as esperanças da qualificação. A equipa francesa não é nenhum bicho papão e está ao nosso alcance. Se vencermos depois os 2 jogos seguintes (algo também perfeitamente exequível), ainda podemos vir a ser felizes na Champions este ano. Eu acredito!

O resumo do jogo aqui:

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sorteio da Taça de Portugal e escolhas da FIFA para a Bola de Ouro

1 - Na segunda-feira ficou a conhecer-se o adversário do Benfica na 4ª eliminatória da Taça de Portugal. Apesar de todos sabermos que podia ter-nos calhado um adversário mais fácil (ainda estão tantos da II e III divisões em prova...), não posso dizer que considero o sorteio mau. E por uma questão muito simples: eu sou apologista da teoria de que, se queremos ganhar qualquer competição, temos de estar aptos a vencer qualquer dos adversários que estejam em prova. Posto isto, e ainda por cima sendo em casa, não me parece que tenhamos de ter medo de ser eliminados pelo Braga na Luz. Temos o aviso da época passada, onde fomos eliminados em casa precisamente nesta eliminatória pelo Vitória de Guimarães, e é a isso que teremos de nos agarrar para evitar que um desfecho semelhante aconteça agora. Já vencemos o Braga na nossa casa este ano, para o campeonato, e o mesmo é perfeitamente possível de acontecer também para a Taça. Que os nossos jogadores estejam inspirados nesse
dia, para que continuemos a poder sonhar com a conquista da 25º Taça de Portugal, ainda para mais com (pelo menos) menos um adversário directo em prova a partir daí.

2 - Foram divulgados também os 23 nomeados para a Bola de Ouro deste ano, que pela primeira vez será em conjunto entre a FIFA e a France Football (deixou de haver um prémio para cada). Todos sabemos, já desde há vários anos, como se processa a entrega destes prémios. Não basta ser o melhor: tem de se ganhar igualmente muita coisa, de preferência as grandes provas. E em ano de Europeu ou Mundial, o caso toma proporções ainda mais escandalosas. Não é por acaso que o vencedor em anos de mundiais é quase sempre um dos campeões do Mundo. Este ano estão nomeados 7: Xavi, David Villa, Xabi Alonso, Iker Casillas, Carles Puyol, Andres Iniesta e Fabregas (a Espanha é mesmo o país mais representado), e não duvido de que um dos vencedores saia mesmo deste lote. Provavelmente será Xavi. O que considero injusto, pois acho que o Xavi não é nem de perto nem de longe o melhor jogador do Mundo. O facto é que ganhou o campeonato espanhol e, acima de tudo, o Mundial. Se assim não fosse, não teria quaisquer hipóteses. No entanto, e vendo as coisas por esse prisma, então o candidato mais forte teria de ser Sneijder. É que o holandês só não ganhou mesmo o Mundial (e mesmo assim terminou em 2º). De resto, ele e o seu Inter venceram tudo menos a Supertaça Europeia (e ainda podem levar o Mundial de clubes, em Dezembro). Depois temos os casos de Cristiano Ronaldo (fez uma boa época mas não ganhou um único título; depois fez um Mundial fraco; e agora está a fazer um início de época excepcional, mas a ausência de títulos ganhos mina-lhe todas as hipóteses); Forlán (ganhou a Liga Europa e a Supertaça Europeia, além de ter sido considerado o melhor jogador do Mundial); e Messi, que fez um ano inteiro brilhante, como sempre, mas falhou no Mundial, e por isso não vai levar o prémio.

E as maiores incongruências estão aqui: Asamoah Gyan, figura do Gana no Mundial, está entre os eleitos. Ora, o ganês no ano de 2010 tem estes brilhantes números a nível de clubes: 21 jogos e 6 golos. 15 jogos e 5 golos no Rennes e 6 jogos e 1 golo no Sunderland. Pelo meio, marcou 3 golos (2 deles de penalty) em 5 jogos no Mundial , sendo que falhou um penalty no último minuto com o Uruguai que praticamente eliminou a sua selecção. Posto isto, pergunto: é justo que este rapaz esteja nomeado e que Diego Milito, que fez uma época fabulosa e ofereceu 3 títulos ao Inter (campeonato, Taça e Liga dos Campeões - nestas 2 marcou inclusivamente os golos que deram a vitória nas 2 finais), não esteja? E a razão, qual é? Praticamente não jogou no Mundial. É esta a justiça que temos no Mundo...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

JVP


Portimonense-Benfica

1 - Portimonense entrou melhor

Tanto o Benfica como o Sporting protagonizaram exibições pouco interessantes, com ambos os jogos a valerem pelo resultado. No Algarve, curiosamente, até foi o Portimonense que começou melhor e deu a sensação de querer discutir o jogo, mas o remate de David Luiz, aos sete minutos, assinalou o momento em que o Benfica começou a tomar conta do encontro. Aliás, tanto na primeira como na segunda parte, os primeiros 5/10 minutos foram os melhores períodos do Portimonense que, sobretudo através de Candeias, parecia querer fazer alguma coisa.

2 - Golo e pouco mais

Aos poucos, o Benfica começou a pegar no jogo, a rematar mais e a aproximar-se mais da baliza contrária mas não teve a dinâmica habitual, também porque se apercebeu da impotência do Portimonense para fazer mais. Porém, apresentou-se forte naquela que é uma das suas armas, as bolas paradas e foi assim que surgiu o único golo. O jogo do Benfica foi mais conseguido na primeira do que na segunda parte e após o golo limitou-se a gerir o resultado. Daí em diante só criou um momento de verdadeiro perigo, através de Kardec, primeiro, e Jara, na recarga.

3 - Benfica jogou apenas q.b.

A falta de dinâmica benfiquista tem muito a ver com a ausência de Coentrão, que mexe com o jogo do Benfica e o acelera, como fazia Di María, embora de forma diferente. Carlos Martins, Aimar, Saviola (tal como Gaitán e o próprio Kardec) também dão dinâmica mas tratando-se de jogadores experientes também sabem quando um encontro está controlado e daí que tenham jogado apenas o suficiente para ganhar, tal como toda a equipa.

4 - Mobilidade de Kardec e sentido de golo de Cardozo

Durante a semana Jorge Jesus fez comparações entre Cardozo e Kardec. É verdade que este último se movimentou mais, dando mais trabalho aos defesas adversários, mas o Cardozo tem um sentido de golo que faz com que muitas vezes dê a sensação de estar alheado de um jogo e de repente marca um ou dois golos. Se não tivesse Aimar, Saviola e Carlos Martins, o Benfica precisaria mais de Kardec mas com este trio, que como disse anteriormente também é responsável pela dinâmica da equipa, não é necessário um ponta-de-lança tão móvel.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Portimonense 0 - 1 Benfica - 8ª Jornada 2010/11

Mais uma vez fomos capazes de responder ao desaire europeu com uma saborosa e sofrida (mais do que era necessário) vitória para o campeonato. Este não é o Benfica da época passada, já todos sabemos disso, e as ausências de jogadores chave continuam a ser muito difíceis de ultrapassar (Kardec ainda não é um substituto à altura de Cardozo e Peixoto nunca será uma alternativa a Fábio Coentrão). No entanto, hoje vimos um Benfica dominador qb e a falhar oportunidades em catadupa (só assim de repente lembro-me de 2 de David Luiz, mais 2 de Luisão, mais 2 de Kardec e outra incrível de Jara). E no final, só ganhámos (mais uma vez) pela margem mínima, à semelhança do que tinha acontecido frente ao Marítimo e ao Braga (embora na Madeira, como hoje, tenhamos tido muito mais oportunidades que contra o Braga).


O Portimonense ainda foi assustando aqui e ali, sempre através de Candeias, mas no geral o Benfica teve sempre o jogo controlado e até dominado. Na primeira parte, David Luiz, por duas vezes, e Luisão, numa ocasião, tiveram tudo para inaugurar o marcador, mas Ventura (o melhor em campo) foi adiando o inevitável até onde pôde. Que foi até aos 49 minutos, quando Javi García, que já não marcava há vários meses, voltou a ser decisivo, tal como havia sido na recepção à Naval, na última temporada. O espanhol é muito bom a jogar de cabeça e aproveitou também a passividade da defesa do Portimonense (muito permeável em variadíssimas ocasiões, como eu havia aqui referido antes do jogo) para fazer o golo que o Benfica já merecia. A partir daqui, a equipa de Portimão (que foi montada inicialmente ao estilo dos velhos tempos, com todos os jogadores atrás da linha da bola - o denominado "autocarro") tentou subir um pouco no terreno, mas nunca teve a clarividência e, sejamos francos, a qualidade para fazer mossa na defesa encarnada. Candeias bem tentou, mas a equipa acabou por se ressentir da táctica de Litos, demasiado medrosa. Foi mesmo o Benfica que podia ter fechado o jogo por variadas ocasiões, mas Kardec e depois Jara (este num falhanço imperdoável) não conseguiram fazer o 2-0 da tranquilidade. Por sorte, a defesa hoje portou-se muito bem e não permitiu quaisquer veleidades.


O Benfica obteve assim um triunfo totalmente justo, recuperando o segundo lugar e colocando alguma pressão em cima do Porto - embora eu não acredite que os portistas deixem escapar pontos em casa com o União de Leiria, mas pronto, a esperança é a última a morrer. Para a semana há a recepção ao Paços de Ferreira, mais um encontro em que a vitória será crucial, pois na jornada seguinte temos o escaldante Porto-Benfica, pelo que estamos completamente proibidos de perder pontos até lá (até porque eu tenho uma secreta esperança de que a Académica, a fazer um grande campeonato, consiga roubar pontos aos dragões em Coimbra). Outra coisa: o Jorge Jesus vai ter de gerir muito bem a questão dos cartões, pois temos neste momento 4 jogadores importantíssimos em risco de falhar a deslocação ao Porto: Maxi, Luisão, Carlos Martins e Javi García. Na minha opinião, descansavam todos menos o Luisão. Para a recepção ao Paços de Ferreira, que não é nenhum colosso, penso que o Luís Filipe desenrascava no lugar do Maxi, o Airton idem no lugar do Javi e um qualquer Felipe Menezes, Salvio ou até o Weldon fariam o lugar do Martins. Penso que são jogadores importantíssimos e não nos podemos dar ao luxo de ficar sem nenhum deles para a 10ª jornada. Acho que o Luisão tem de jogar nesse jogo porque, caso o Maxi fique no banco, não confio numa defesa composta por Luís Filipe (ou Airton), Sidnei, David Luiz e Coentrão (ou Peixoto, se o Coentrão não recuperar até lá). E também acho que o Luisão aguenta um jogo com o Paços sem ver um cartão. Portanto, vamos lá, Benfica. Porque eu ainda acredito, rumo ao 33º!

O resumo do jogo aqui:

sábado, 23 de outubro de 2010

RAP


E isso me envaidece

Estive ontem mais de duas horas a conversar com um adepto do Benfica. Chama se António Lobo Antunes e é, alem de benfiquista, um grande escritor. Um dos maiores do mundo. Sempre que lhe dão um prémio literário, e já lhos deram quase todos, fica mais prestigiado o prémio do que ele. Tem diplomas, medalhas, vários quadros de grandes pintores que quiseram pintar-lhe o retrato. Creio, por isso, que os leitores não serão capazes de lhe censurar a vaidade se disser que, em casa dele, na parede do quarto, está, emoldurada, a sua ficha de inscrição como sócio do Sport Lisboa e Benfica. Cada um tem as suas honrarias, e a vontade de exibir as maiores é apenas humana. «É extraordinário», disse ele a olhar para a moldura, «como um clube fundado por órfãos da Casa Pia - ao contrário do Sporting, fundado por um Visconde, e do Porto, fundado por banqueiros - consegue...» E, entretanto, faltaram-lhe as palavras.

«É extraordinário», limitou-se a repetir. Confesso que fiquei desapontado. Afinal, um grande escritor não fazia milagres: quando alguma coisa era do domínio do indizível, não havia vocabulário, nem talento, nem nada que lhe valesse. Mas, nesse mesmo segundo, Lobo Antunes desmentiu-me. Encontrou as palavras que lhe faltavam, e começou a recitá-las: «Domiciano Barrocal Gomes Cavém. José Pinto de Carvalho Santos Águas. Mário Esteves Coluna. Alberto da Costa Pereira. José Augusto Pinto de Almeida. Ângelo Gaspar Martins. António José Simões da Costa.» Assim mesmo, com os nomes completos e sem hesitações. Mais adiante, nessa mesma tarde, António Lobo Antunes haveria de declamar um poema de Dylan Thomas. Mas não voltou a ser tão poético como naquele momento, à frente de uma ficha amarelecida por mais de 60 anos.

Antes de nos despedirmos, ainda registámos uma coincidência. No dia 23 de Maio de 1990, eu tinha 16 anos e estava a chorar em minha casa; António Lobo Antunes tinha 47 e estava a chorar na dele. Claro, Lobo Antunes é um génio, e eu sou apenas, e só quando consigo, eu. Mas, ao menos naqueles minutos que sucederam à final da Taça dos Campeões (duas ou três horas, no meu caso), a minha sensibilidade foi igual à dele. Não é a primeira vez que o Benfica faz de mim uma pessoa melhor, mas nunca deixa de ser surpreendente.
Feito este curto mas importante parêntesis, para a semana voltarei a dedicar-me às grotescas incongruências de Rui Moreira e Miguel Sousa Tavares, que é para isso que cá estou.

Por Ricardo Araújo Pereira, 23 de Outubro in jornal A Bola

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

JVP


Lyon-Benfica

1- É preciso ter muitas cautelas e aproveitar meia oportunidade

O Benfica é uma boa equipa e muito vocacionada para atacar, mas os seus responsáveis não se podem esquecer que nesta competição há equipas muito fortes, com grandes jogadores e mais experiência nestas andanças. Quando nos referimos ao Lyon estamos a falar de um dos semifinalistas da Liga dos Campeões da época passada, que entre outros eliminou o Real Madrid. Frente a adversários deste valor é preciso ter mais cautelas defensivas, segurando e estabilizando o jogo e só depois usar as muitas qualidades ofensivas que a equipa é capaz de desenvolver, além de que neste tipo de jogos é preciso ser eficaz quer no último passe quer no reduzido número de oportunidades que esta prova permite. É necessário ser capaz de aproveitar meia oportunidade e fazer golo.

2 - Há zonas do campo onde não se pode perder a bola

O jogo começou com um ritmo forte. Desde cedo deu para perceber que ambas as equipas estavam dispostas a jogar de olhos nos olhos, e aqui o Lyon levava alguma vantagem, porque se apresentou mais bem organizado em termos defensivos. Quando defendia concentrava um elevado número de jogadores atrás da linha da bola, esperando pelo erro do Benfica. Como esses erros se sucederam no meio-campo, o Lyon criou uma série de lances de perigo, porque é muito rápido nas transições. Nos primeiros três minutos, o Benfica apanhou dois sustos devido a passes laterais de Maxi Pereira e Javi García que o Lyon interceptou. Pouco depois foi David Luiz a perder uma bola em zona perigosa, para culminar com uma perda de Carlos Martins também em zona proibida que deu golo à equipa da casa. E o Carlos Martins até esteve bem, tirando esse lance… Mas há zonas do campo em que toda a gente sabe que não se pode perder a bola, sobretudo estando a defrontar um adversário experiente e que se sabe de antemão que é perigoso.

3 - Benfica pôs-se a jeito

O Benfica foi atrevido, jogou para marcar, principalmente na primeira parte, mas quando perdia a bola não conseguia acompanhar defensivamente a velocidade que o Lyon imprimia ao contra-ataque. As acelerações feitas nas transições causam sempre embaraços à defesa benfiquista.
A equipa da Luz conseguia levar a bola até a entrada da área do adversário, mas no último terço a definição do último passe nunca foi boa. E o problema é que mesmo quando o Benfica equilibrava o jogo, percebia-se que o Lyon estava mais perto de marcar. Fiquei com a sensação de que Carlos Martins e Gaitán entusiasmavam-se excessivamente e depois não conseguiam recuperar da mesma forma. Pode afirmar-se que apesar da excelente organização do Lyon e da boa estratégia que tinha para este jogo, o Benfica pôs-se a jeito. Apesar de ter demonstrado coragem, cometeu erros a mais, foi pouco cauteloso. E o adversário parecia estar mesmo à espera disso.

4 - Lyon muito forte

O Lyon mostrou ser uma equipa mais compacta e mais agressiva a defender, com um colectivo muito forte, tanto a defender como a atacar. Ali não houve estrelas, apenas um bloco unido. Daí que após a expulsão de Gaitán - no meu ponto de vista o momento do jogo - se tenha percebido que muito dificilmente o Benfica conseguiria chegar sequer ao empate. Se com 11 de cada lado estava a ser muito difícil parar os franceses, com 10 a missão tornava-se impossível. A entrada forte do Lyon na segunda parte, atacando o flanco esquerdo do Benfica, onde faltava Gaitán, acabou bem cedo com as ilusões. Jorge Jesus ainda meteu César Peixoto para reforçar a ala esquerda, mas o resultado já estava em 2-0 e pouco havia a fazer. É que o Lyon circulava a bola e imprimia um ritmo tal que cansava o Benfica. É muito difícil jogar com menos um.

5 - Roberto e Coentrão em destaque

O Lyon só desacelerou nos últimos 10 minutos, sabendo que tinha o jogo ganho. As entradas de Jara e Sálvio, a par das iniciativas de Coentrão - foi o melhor do Benfica, a par de Roberto, que parece ter afastado definitivamente os fantasmas -, permitiu ao Benfica estender-se um pouco mais no terreno, mas nessa altura já pouco havia a fazer. Antes da expulsão, sim, estou convencido de que o Benfica poderia ter discutido a partida.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Lyon 2 - 0 Benfica - Fase de Grupos Liga dos Campeões 2010/11

Mais um jogo, mais uma derrota e as contas complicaram-se a sério. Aparte as incidências da partida, das quais falarei em baixo, a maior problemática prende-se agora com a passagem aos oitavos-de-final, que ficou agora mais difícil. Neste momento, teremos de vencer obrigatoriamente 2 dos 3 jogos que nos faltam, embora o ideal fosse mesmo ganhar os 3. E mesmo assim podíamos não nos apurar, porque ainda há a hipótese, ainda que remota, de ficarem 3 equipas com 12 pontos, e aí tudo se teria de decidir pelos golos. No entanto, não me parece que o cenário vá ser esse. Acredito que o embate entre o Lyon e o Schalke termine empatado, o que me leva a crer (sem os confrontos que ainda faltam com o Benfica) que o Lyon fará 13 pontos e o Schalke 10. Ora, isso significa que o Benfica terá obrigatoriamente de ganhar em Israel e na Luz ao Schalke, fazendo assim 10 pontos. O que quer dizer que, no mínimo, temos de empatar com o Lyon em casa, daqui a duas semanas. Quando perdemos com o Schalke eu disse aqui que, se perdêssemos também em Lyon, estaríamos arrumados. Fazendo as contas, percebo que ainda há uma esperança. Mas a atitude terá de ser totalmente diferente da que mostrámos ontem.


O início do jogo mostrou o que os mais atentos já sabiam: a posição que o Lyon ocupa na tabela em França é totalmente enganadora, pois estamos perante uma equipa fortíssima, que ainda no ano passado chegou às meias-finais da Liga dos Campeões. O guarda-redes é de classe mundial e o meio-campo e o ataque não lhe ficam atrás. A defesa é o sector mais permeável e era por aí que o Benfica poderia impor o seu jogo: pressionar os laterais e confiar na qualidade de Saviola e Kardec em relação aos centrais Cris e Diakhaté. O problema (ou um dos) é que o meio-campo encarnado nunca foi capaz de aguentar o meio-campo ofensivo do Lyon. Gonalons apagou por completo Aimar, o Briand (para mim o melhor em campo) não perdeu uma única iniciativa atacante, o Michel Bastos idem e o Gourcuff jogou com a classe que se lhe conhece. Do Lisandro nem vale a pena falar, já todos sabemos bem quem ele é e o que vale. A somar a tudo isto, tivemos mais uma vez um erro individual a trair o colectivo: o Carlos Martins, qual David Luiz, entendeu que havia de brincar perto da baliza e deu origem ao primeiro golo do Lyon, marcado pelo Briand. Começava o descalabro.


E depois subiu ao papel de protagonista, dentro deste enredo trágico, a questão da inexperiência da nossa equipa. O Maxi Pereira, o David Luiz, o Javi García, o Gaitán, o próprio Carlos Martins e o Kardec não têm a mínima experiência destas andanças (o Coentrão também não, mas a sua qualidade nem nos faz lembrar disso). E isto paga-se caro numa competição deste género. Ontem vi o Javi fazer a pior exibição desde que está no Benfica, o Martins idem e o Maxi está uma sombra do que nós conhecemos. Para piorar tudo, apenas um nome: Gaitán. O resto vocês viram por vós próprios. O erro de principiante do argentino precipitou o desastre que veio a seguir, com o Benfica a sofrer até aos 55 minutos um verdadeiro vendaval de ataques do Lyon, uns atrás dos outros. Por sorte (e por um espanhol chamado Roberto) só sofremos mais um golo, mas podíamos ter saído de Lyon vergados a uma goleada absolutamente histórica. Sem surpresas, Lisandro aumentou a vantagem, na recarga de um remate já de si muito bom, detido por uma defesa fantástica de Roberto (que minutos depois faria outra ainda mais sensacional).

Por esta altura, o Jesus finalmente acordou e percebeu que tinha de fazer alguma coisa para reforçar o meio-campo. Embora eu não goste dele, tal como a maioria dos benfiquistas, tenho de admitir que a entrada de César Peixoto, naquele contexto, foi o melhor a fazer. A questão é que aquela substituição devia ter acontecido no intervalo, pois a avalanche que se deu nos primeiros dez minutos da segunda parte já se estava a prever. Parece que só o nosso treinador não o percebeu. Assim, Como já disse acima, esta derrota deixa tudo mais negro. Mas pronto, o cenário para a Champions já foi traçado no primeiro parágrafo. Agora temos de pensar na deslocação a Portimão e desengane-se quem acha que vai ser fácil: não vai. O Portimonense tem um ataque jovem e irreverente, que pode complicar a vida à nossa defesa. No entanto, a defesa é o seu calcanhar de Aquiles. Se os nossos atacantes (e médios) estiverem concentrados, atentos e empenhados, pode ser essa a chave do triunfo. Tendo em conta que o Porto já tem os 3 pontos certos (com o União de Leiria em casa, menos de 3 é derrota para aquela equipa), o Benfica só pode vencer para manter a distância pontual em "apenas" 7 pontos. Porque o 33º ainda é possível, vamos lá, Benfica!

Os golos do jogo aqui:

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

RAP


Batotas que temos como evidentes

“A Constituição americana – até hoje considerada como um dos melhores textos jurídicos jamais escritos - enumera o que os Founding Fathers chamaram de «verdades que temos como evidentes». “
Miguel Sousa Tavares, A Bola, 12 de outubro de 2010

Aparentemente, há juristas que lêem a Constituição americana sem o cuidado que é devido a um dos melhores textos jurídicos jamais escritos. Na verdade, não é a Constituição americana que enumera aquilo a que os Founding Fathers chamaram verdades que temos como evidentes. Essas são enumeradas na Declaração de Independência, que foi escrita uma boa década antes da Constituição. É, então, na Declaração de Independência que os chamados países fundadores dos Estados Unidos expõem as verdades que consideram evidentes: que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, e que entre esses direitos se contam o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Uma das verdades que não é evidente, quer para a Constituição, quer para a Declaração de Independência, é que os cidadãos tenham o direito inalienável de não serem escutados. Como é evidente, todos os cidadãos têm o direito à privacidade - mas esse direito não é absoluto. E a magnífica lei americana permite o uso das escutas como meio de investigação, assim como a lei portuguesa. Que horror! Mas não era a PIDE que também escutava? Era. Se bem me lembro, a PIDE também prendia e, apesar disso, no regime democrático há quem continue a ir preso. A diferença é simples, mas parece que é difícil de entender: a PIDE escutava e prendia arbitrária e ilegitimamente, como é próprio das polícias políticas das ditaduras; a polícia das democracias escuta e prende justificada e legitimamente, como é próprio do Estado de direito democrático. O mais intrigante, no caso das escutas do Apito Dourado, é o facto de haver discussão quando, afinal, estamos todos de acordo. Por exemplo, estou de acordo com Miguel Sousa Tavares quando, depois de José Sócrates lhe ter dito que não devíamos conhecer o conteúdo das escutas do processo Face Oculta, respondeu: “Mas conhecemos. Eu também acho que não devíamos conhecer, mas conhecemos. E, uma vez que as conhecemos, não podemos fingir que não conhecemos. Eu, pelo menos, não posso”. (http://www.youtube.com/watch?v=RlWI8t7JY6Y&t=08m07s).

E estou de acordo com Rui Moreira, quando ontem confessou aqui a razão pela qual comentou as escutas que envolviam o nome de José Sócrates: «(...) limitei-me a não ignorar o que era público, ainda que resultasse de uma ilegalidade. Ninguém se pode alhear do que é público e das suas consequências». A única diferença é que eu tenho essa opinião relativamente a todas as escutas, e não em relação a todas menos as do Apito Dourado. Também acho que não devíamos conhecer a escuta em que Pinto da Costa combina com António Araújo oferecer fruta para dormir ao JP, mas conhecemos. E, uma vez que a conhecemos, não podemos fingir que não conhecemos.

Eu, pelo menos, não posso. Quando comento a escuta em que Pinto da Costa dá indicações a um árbitro para que vá a sua casa nas vésperas de um jogo, limito-me a não ignorar o que é público, ainda que resulte de urna ilegalidade. Até porque ninguém se pode alhear do que é público e das suas consequências. Além disso, note-se, até concordo com MST quando diz que as escutas vieram a público nesta altura por causa do Porto-Benfica. O objectivo é prejudicar o Benfica: os jogadores que tiverem conhecimento das escutas ficam a saber que, por mais que se esforcem, se o árbitro estiver trabalhado não têm hipóteses de ganhar. Desmoraliza qualquer um.
Rui Moreira desfez-se em explicações para justificar que comentar umas escutas é um acto legítimo e comentar outras é uma vileza sem nome. Agora que foi despedido, talvez Rui Moreira tenha mais tempo livre para entrar num negócio que gostaria de lhe propor: formarmos um circo. Como ele já aqui tem sugerido várias vezes, eu seria, evidentemente, o palhaço. Ele seria o contorcionista. Não são muitos os artistas que se podem gabar de ter um número tão bom como o dele. A única maneira de Rui Moreira e MST comentarem uma escuta de Pinto da Costa é o presidente do Porto ser apanhado numa conversa telefónica com José Sócrates. Mesmo assim, suponho que fizessem um comentário misto, debruçando-se apenas sobre intervenções de Sócrates: “Esta intervenção de Sócrates reforça a nossa desconfiança nele. Agora temos uma parte do telefonema que não devíamos conhecer e temos nojo de quem a comenta. Agora está Sócrates novamente a fragilizar a sua credibilidade. E agora temos mais uma parte da conversa que é indigno estarmos a ouvir”.

Umas coisas são picardias maliciosas, típicas do mundo do futebol; outra, bem diferente, são ofensas. E Villas Boas ofendeu-me gravemente numa conferência de imprensa que deu esta semana. Disse que as minhas crónicas eram as únicas que gostava de ler porque eu o fazia rir. Sinceramente, creio que não merecia o insulto. Todas as semanas faço aqui o melhor que posso para provocar Villas Boas. Já recorri a tudo: sarcasmo, ironia, escárnio, simples sacanice. E Villas Boas tem a repugnante nobreza de carácter, o asqueroso desportivismo de achar graça. Para ele, se bem percebo, isto do futebol é a coisa mais importante do mundo para todos, mas no fim acaba por ser um jogo de que nos podemos rir juntos, seja qual for o nosso clube. Simplesmente infame. Exijo que passe a ter o fair-play de um Rui Moreira, que gosta muito de piadas desde que não sejam sobre ele. Obrigado.

Por Ricardo Araújo Pereira, 16 de Outubro in jornal A Bola

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um post que pode ser considerado um remix

Nos últimos dias deram-se vários acontecimentos que, por uma razão ou outra, não pude abordar mais cedo, pelo que me debruço agora sobre eles.

O primeiro dos quais, e que muita celeuma causou na blogosfera benfiquista, diz respeito ao pedido de 2500 bilhetes, pela direcção, para o jogo do Dragão. Ao contrário de muitos dos meus correligionários, não vejo esta questão como negativa, de acordo com a maneira como uma fonte encarnada a colocou logo depois à imprensa. Na verdade, compreendo perfeitamente a explicação. A direcção do Benfica adoptou a decisão de pedir aos adeptos para não comparecerem nos jogos fora para as equipas perceberem que têm de nos apoiar na luta pela verdade desportiva, que a batalha do Benfica contra a corrupção no futebol não pode ser travada apenas por nós, com eles todos a apoiar os criminosos que pululam no nosso futebol. Obviamente que este pedido não faz qualquer tipo de sentido no Estádio do Dragão, pelo que é perfeitamente compreensível que o veto aos jogos fora não se aplique nessa saída.

Depois, houve a registar a morte de Malcolm Allison, um senhor do futebol, que em Portugal treinou Sporting, Vitória de Setúbal e Farense. Um homem que teve uma vida recheada de excessos, mas que deixa muitas saudades aos verdadeiros amantes deste desporto.


Ontem, deparei-me com estas declarações de Carlos Móia, presidente da Fundação Benfica, e dei por mim a pensar "Porque será que os nossos dirigentes não podem falar sempre assim? Isto é que são provas de benfiquismo e de que no nosso clube temos pessoas de bem". Oxalá todas o fossem.


Finalmente, hoje tivemos a confirmação por parte de Nuno Gomes de que no final da época o nosso capitão terminará a sua carreira como futebolista na Luz (ainda que possa continuar mais um ano noutro clube). Compreende-se a decisão (já esperada) de um jogador que tanto deu ao Benfica e ao futebol português, e que como tantos outros sempre foi visto com desconfiança pelos adeptos encarnados, que têm essa irritante tendência de menosprezar os seus símbolos, idolatrando outros que muitas vezes não chegam a dar nada de relevante ao clube. Nuno Gomes deu muito ao Benfica, foi o máximo goleador da equipa em várias ocasiões, ganhou dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e 2 Taças da Liga de águia ao peito e, além de ter capitaneado a equipa nos últimos 4 anos, é dos melhores goleadores da nossa história e também da selecção nacional. Apesar do apagamento nestas últimas 2/3 épocas (normal devido à idade e à concorrência), será um jogador que vai ficar para sempre como um símbolo do Benfica. E merecidamente. Só lhe posso desejar o melhor para o resto da sua carreira e para a sua vida e que esta época consiga juntar mais troféus à sua colecção (diria 4, mas acho que já era pedir de mais eheheh). Um muito obrigado ao capitão Nuno Gomes!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Benfica 5 - 1 Arouca - III eliminatória Taça de Portugal 2010/11

Depois do interregno motivado pela dupla jornada da selecção (que felizmente se revelou vitoriosa), o Benfica voltou a jogar, e novamente o resultado final se traduziu num triunfo. Desta feita robusto, mas também não estávamos a jogar novamente contra o Braga. O adversário, embora respeitável e em claro crescendo na sua existência, está obviamente muitos furos abaixo do Benfica, e caso a História não seja suficiente para se perceber isso, o jogo de ontem comprovou-o por completo.


A entrada no jogo não foi demolidora, como aliás não o foi toda a exibição no seu cômputo geral. O Benfica controlou o encontro como quis e o Arouca nunca deu mostras de ter qualidade para poder sequer discutir o resultado. Percebeu-se desde cedo que estávamos perante um daqueles jogos em que só custa marcar o primeiro; a partir daí, é sempre a abrir. Foi o que aconteceu. Quando Kardec marcou o primeiro, num grande gesto técnico, praticamente acabou com a incerteza que poderia pairar nas cabeças de todos (afinal, já não seria a primeira vez que podia acontecer "Taça", como o post anterior tão bem exemplifica). Realce para o bom passe de Gaitán (o melhor jogador em campo).


O segundo surgiu poucos minutos depois, com Saviola a nem ter de rematar: a bola ressaltou-lhe simplesmente nas pernas, depois de mais um grande cabeceamento de Kardec, e acabou por entrar tranquilamente na baliza arouquense. Começava a odisseia triunfal encarnada das bolas paradas (o golo nasceu de um livre de Aimar). O avançado brasileiro, que se estreou a marcar pelo Benfica em provas nacionais (ainda só havia facturado a nível oficial frente ao Marselha, na Liga Europa da época passada), completou o seu bis na sequência de um canto, e novamente de cabeça (bate Cardozo aos pontos neste item).


Com 3-0 ao intervalo, a dúvida era apenas saber até onde chegaria o Benfica. Acabou por marcar apenas mais 2 golos, devido a ter abrandado bastante o ritmo (talvez já a pensar no jogo de Terça-feira em Lyon, importantíssimo para as contas do apuramento na Liga dos Campeões). As alterações entretanto produzidas na equipa também podem ajudar a explicar o rendimento pouco exuberante na segunda parte: Luís Filipe, apesar de 2 ou 3 bons cruzamentos, voltou a demonstrar não ter nível para jogar de águia ao peito; Weldon nem se viu e Nuno Gomes, ao contrário do primeiro suplente a entrar, voltou a demonstrar que ainda pode ser muito útil, ao fazer uma triangulação perfeita para o grande golo de Gaitán.


Antes, Luisão, na sequência de mais um livre lateral, cabeceou de forma perfeita, fazendo o 4-0.


Com o jogo feito, o Arouca conseguiu o golo de honra, também através de uma bola parada (canto) onde Luís Filipe fica terrivelmente na fotografia (na verdade, fica horrível: é que não se mexe um milímetro para marcar Diogo, jogador do Arouca que concretiza o golo; é exasperante...). No Arouca, o jogador que mais me chamou a atenção foi o médio cabo-verdiano Babanco. Tem potencial para estar numa equipa bastante superior.


Uma vitória tranquila, folgada mas que já foi. Agora, todos os pensamentos da equipa terão de estar voltados para a Liga dos Campeões. O Lyon, apesar da época miserável que tem feito a nível interno, é uma equipa fortíssima (ainda hoje voltei a comprovar isso, ao ver o seu triunfo frente ao Lille), tem jogadores de grande nível e é primeiro do grupo apenas com vitórias. Além disso, o Schalke vai certamente vencer em Israel, o que significa que ficará com 6 pontos. Teremos de, no mínimo, conseguir trazer um empate de França. Caso contrário, a nossa vida na prova não ficará nada fácil. Como disse o Jorge Jesus no fim do jogo de ontem, conseguir seis ou quatro pontos nesta dupla jornada com o Lyon colocar-nos-á muito perto do apuramento. Se perdermos, as contas já ficarão muito difíceis. Mas quero acreditar que somos perfeitamente capazes de trazer pelo menos um ponto de França. Quanto à Taça, resta esperar pelo sorteio para saber quem nos vai calhar, sabendo que de Porto, Sporting e Braga, um deles poderá ser o próximo obstáculo a ultrapassar. Por mim, tudo bem: se queremos ganhar a Taça (e queremos), temos de ser capazes de ganhar a qualquer um (e somos). Portanto, vamos em frente, rumo à 25ª!

Os golos do jogo aqui:

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Benfica na Taça de Portugal - 2002/03

A um dia de iniciarmos a nossa participação na Taça de Portugal 2010/11, retomo a rubrica "O Benfica na Taça de Portugal", desta vez com uma nuance em relação ao que costumo fazer: até agora, apenas coloquei performances dignas de registo do nosso clube neste tipo de rubricas, de modo a exaltar os feitos conseguidos nessas campanhas. Desta feita, pelo contrário, vou relembrar um dos piores momentos da história do clube (pelo menos da história recente), de modo a mostrar o que pode acontecer quando se menospreza o adversário, seja ele qual for. Porque o Benfica é um clube que tem de entrar em todos os jogos com o mesmo espírito, com a mesma ambição e vontade de ganhar. Não é por defrontar o Arouca que se deve pensar que o jogo vai ser favas contadas. E esta dolorosa derrota com o Gondomar em 2002/03, se serviu para alguma coisa (além da demissão do execrável Jesualdo Ferreira), foi para nos demonstrar isso mesmo. E da forma mais dura.


(O onze titular do Benfica-Gondomar)

No dia 24 de Novembro de 2002, o Benfica recebia o Gondomar, da II Divisão B, na quarta eliminatória (primeira em que participavam os grandes) da Taça de Portugal. A forma da equipa não era a melhor (era segunda, a 9 pontos do Porto de Mourinho), mas éramos os claros favoritos, obviamente, tal a diferença de valor entre as 2 equipas. No Gondomar, orientado por Jorge Regadas, os nomes mais sonantes (que é como quem diz...) eram os dos avançados Bock (formado no Porto, fez carreira como grande goleador na II Divisão B e mais recentemente, já trintão, na II Liga - ainda lá joga, no Freamunde) e Cílio Souza, que 3 anos antes havia chegado a Portugal em Janeiro para marcar 12 golos em 18 jogos e trazer o Beira-Mar de volta à I Liga. Depois apagou-se, passou pelo Rio Ave e nessa época tentava relançar a carreira no Gondomar. Havia ainda Ernesto Brunhoso, formado no Boavista e com passado nas selecções jovens de Portugal, que nunca conseguiu mostrar nada de jeito como sénior - na I Liga representou apenas o Salgueiros e de forma muito fugaz. Na baliza estava Nuno Claro, que ganhou notoriedade nos últimos anos no Cluj, da Roménia, onde é titular e já foi 2 vezes campeão. No entanto, nesta altura era um jogador praticamente desconhecido, com passagens fugazes por Vitória de Guimarães e Paços de Ferreira. No Benfica, pelo contrário, os "craques" abundavam. O problema (um dos...) é que neste jogo Jesualdo decidiu dar tempo a alguns dos habituais suplentes (e outros terceiras escolhas, como foi o caso do guarda-redes) e o resultado foi um terrível fracasso. Neste dia, jogaram pelo Benfica Nuno Santos; Armando Sá, João Manuel Pinto (o capitão), Hélder e Cabral; Andrade e Petit; Roger e Zahovic; Nuno Gomes e Fehér. Confesso que, olhando para este 11, não faço a mínima ideia como o meio-campo estava formado (Andrade a trinco, Petit como interior direito, Roger como esquerdo e Zahovic a 10? Seria isto?). O certo é que o resultado final foi desastroso. Nuno Santos nunca havia jogado pelo Benfica (e nunca mais voltou a jogar), Armando era titular ocasionalmente, assim como João Manuel Pinto, Cabral nunca jogava, Andrade idem (a não ser nos jogos com os grandes...), tal como Roger e Fehér. Neste jogo jogaram e deu barraca.


Cílio Souza marcou logo aos 10 minutos, num grande golo de livre, e nos outros 80, a equipa foi incapaz de reagir, demonstrando gravíssimas lacunas ao nível da construção e também da pontaria. Ao intervalo, e já depois de Drulovic ter entrado para o lugar de Roger aos 33 minutos, Mantorras substituiu Cabral. Aos 70', Anders Andersson tomou o lugar de Zahovic. Mesmo assim, a equipa não foi capaz de virar este resultado.


Aqui fica a minha memória deste jogo (escrita) e o golo que nos eliminou e que aterrou 6 milhões de portugueses nesse fatídico dia. Para que amanhã, frente ao Arouca, não se repita o mesmo erro, de modo a que no final da época possamos estar no Jamor a festejar a conquista da 25ª Taça de Portugal do nosso historial, 7 anos depois da última conquista (e 6 depois de lá termos ido pela última vez). Eu acredito!



PS: As imagens foram "roubadas" do blog Conversas Redondas, que passei a conhecer agora e o qual aconselho todos a visitarem.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Crónica para ler e reler


"TITANIC" NO BIDÉ

"No Trio d'Ataque de terça-feira, depois da saída de Rui Moreira (que fez lembrar a fuga do árbitro Paulo Baptista das Antas, quando Pinto da Costa lhe quis oferecer «jantar»), Rui Oliveira e Costa (ROC) disse que as escutas são uma forma de tortura. Disse também que não as discutia porque, cito, «não lavo a cara no
bidé», o que faz dele um dos mais completos comentadores desportivos de país: não só perora sobre futebol como, ao mesmo tempo, fornece informações sobre os seus hábitos de higiene. Gosto disso e vou copiar o modelo.
Eu (que não uso canetas Bic para limpar a cera dos ouvidos) também acho que as escutas são uma tortura. Mas para quem as ouve. Perceber que aquelas conversas foram descaradamente ignoradas pelo tribunal é um suplício para mim, (que não palito os dentes com a chave).

Debruço-me apenas sobre alguns segundos destas novas escutas, quando António Araújo fala com um funcionário do FCP e pergunta quem serão os bandeirinhas de Paraty no Gil Vicente-Sporting. Como depois não se aflora mais esse assunto, fui averiguar. Encontrei esta noticia no DN de 7 de Setembro de 2006:
«O Sporting foi outra das equipas que terão sido prejudicadas pelas arbitragens, na época 2003/04(...). No processo Apito Dourado há uma referência ao jogo Gil Vicente-Sporting(a 22 de Fevereiro de 2004), em que se descrevem movimentações antes da partida.(...)
O jogo foi arbitrado por Paulo Paraty e a Policia Judiciária interceptou, dias antes da partida, contactos entre o empresário António Araújo, que mantém negócios com o FC Porto, e um dos auxiliares que fazia equipa com o árbitro do Porto, Devesa Neto. 'Eu depois de amanhã ligo-lhe, que eu precisava de, eu precisava de falar com o Paulo(...) que preciso de lhe dar uma palavrinha, está bem?', disse Araújo a Devesa Neto. Neste mesmo dia, Paraty fala com Devesa Neto ao telefone e, pela conversa, o outro árbitro assistente do jogo, Serafim Nogueira, «iria beneficiar o Gil Vicente e um terceiro clube, o FC Porto», segundo refere o Ministério Público de Gondomar no despacho de arquivamento.
'O Serafim vai vacinado, vai benzido(...) vai benzido pelo lado norte. Bruxo. Vai benzido por dois lados até (...) pelo Minho e pelo norte'. Foi esta troca de palavras entre os dois que levantou suspeitas. Até porque na mesma conversa, Devesa Neto disse: 'Ele também nunca pode fazer muito, o jogo dá na televisão, perceber?'

O jogo acabou empatado (1-1) e o MP afirma que, com este resultado, o Sporting perdeu dois pontos e atrasou-se na luta pelo titulo. No relatório da peritagem ao jogo, são elencados vários lances em que ficaram por punir faltas ao Gil Vicente que poderiam resultar na 'possibilidade do Sporting marcar golo'.»
Apesar do jogo ter dado na TV, o Serafim até fez muito: o Gil Vicente marca o golo num penalty inventado. Lembro que isto se passou na mesma época em que António Araújo, o torturado, ofereceu fruta a Jacinto Paixão a mando de Pinto da Costa; a mesma época em que António Araújo, o mártir, combina a ida do árbitro Augusto Duarte a casa de Pinto da Costa; a mesma época em que António Araújo, o flagelado, diz ao presidente do Nacional que há que «trabalhar» o árbitro, ao que este responde «toca a andar». E parece que andou mesmo.
Portanto, nessa época, quando este empresário se conluia com o bandeirinha dum jogo em que o Sporting viria a ser prejudicado, há comentadores sportinguistas que acham que ele é que é a vítima. É uma espécie de síndroma de Estocolmo, se Estocolmo fosse na Avenida Fernão de Magalhães, no Porto.
ROC diz que as escutas são tortura. Tortura é escutar ROC, que é capaz de passar uma hora a discutir se o árbitro errou ou não, e dizer que não se pronuncia quando se descobre a razão pela qual o árbitro errou. Ainda por cima sabendo que, à conta da trafulhice dessa época de 2003/04, fomos afastados da classificação favorita de ROC, o 2ºlugar. E também da minha, o 1ºlugar. Mas isso sou eu, que não me assoo à fralda da camisa.

No editorial em que responde aos comunicados do Sporting, Alexandre Pais (AP) diz que «Record reage assim com superioridade moral e distância aos recentes comunicados». Normalmente, sabe-se que alguém se guinda a uma posição de superioridade moral pelo tom que usa, pela forma como diz as coisas. Mas em AP a superioridade moral é dupla: não só é intuída, como o próprio assegura que a possui. É uma superioridade moral moralmente superior. Com esta sobranceria redundante, AP elevou a santimónia a um novo patamar. É um moralista num escadote.

Não me surpreende. Em Setembro de 2006, (quando surgiram notícias como a do DN aqui citada), respondi a um inquérito do Record. À pergunta «o que gostaria de ler amanhã no Record?», respondi «uma noticia qualquer sobre escutas e corrupção, que não seja primeiro dada nos jornais generalistas.» Passados uns dias AP escreveu: «José Diogo Quintela disse, nestas colunas, que gostaria de ler amanhã no Record 'uma noticia qualquer sobre escutas e corrupção que não seja primeira dada nos jornais generalistas'. Trata-se de um desejo difícil de concretizar, pois quando o futebol perder de todo a credibilidade - traído por aqueles a quem dá de comer - aos generalistas não faltarão outros temas para exibir barba rija. Mas, morto o futebol, o Record perderá a razão de existir. Que mexam no lixo que os tribunais largaram. Nós pertencemos a um circo que vive de emoções - de golos e de erros, títulos e de frustrações. E não temos vergonha disso.»
Assim fiz. Continuei a mexer no lixo do Apito Dourado, enquanto AP continuou a pertencer aos «circo que vive de emoções», não traindo quem lhe «dá de comer». Sem vergonha, como o próprio admite, Mas com estupenda superioridade moral, claro."

Por Zé Diogo Quintela, in A Bola

terça-feira, 12 de outubro de 2010

RAP


António Araújo e judeus do século XVII: vítimas diferentes, a mesma ignomínia

“Obviamente, o João pode ser o João não podia ter sido nomeado para este jogo”
Rui Moreira, A Bola, 13 de Agosto de 2010
Embora quase ninguém tenha dado por isso, há cerca de dois meses foi cometido um crime nestas mesmas páginas. Não é segredo para ninguém que a divulgação do conteúdo das escutas é proibida. Ora, quando usou a expressão o João pode ser o João, Rui Moreira estava, como se sabe, a citar propositadamente uma escuta em que intervém o presidente do Benfica, publicitando o seu conteúdo. Trata-se de um comportamento completamente inaceitável e extremamente pidesco. E vice-versa. Pela minha parte, devo dizer que não participo em autos de fé, e não posso continuar a colaborar passivamente num jornal que se transforma num auto de fé. Não tenho, por isso, outra alternativa senão abandonar esta crónica durante dois parágrafos.
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Creio que a minha posição ficou clara, e espero que esta atitude simbólica contribua para moralizar o debate futebolístico e o próprio mundo em geral. Lamento ter chegado a este ponto, mas o caso é mais grave do que parece: Rui Moreira é reincidente neste tipo de conduta vergonhosa. No dia 26 de Fevereiro de 2010, o jornal i colocou a várias personalidades a seguinte pergunta: Depois dos episódios recentes relacionados com as escutas e o caso Face Oculta, mantém a confiança no primeiro-ministro? A resposta de Rui Moreira foi: «O primeiro- ministro tem que ser um factor de confiança perante o exterior e agora acho que passou a ser um factor de desconfiança perante o exterior». Sei que o leitor está tão chocado como eu. Rui Moreira não faz qualquer comparação entre a Santa Inquisição e as escutas (que todos os historiadores acham parecidíssimas), não condena os bandidos que as publicaram, nem se demarca da porcaria, da canalhice e da insídia. Não só conhece as escutas como as comenta, tendo mesmo o descaramento de tirar conclusões com base no seu conteúdo. Repugnante. Quando é que esta gente compreende que, nisto das escutas, tudo é indigno (menos o que lá é dito)?
Entretanto, parece que houve problemas no Trio d'Ataque, da RTPN. Não costumo assistir mas, ao que me disseram, um dos representantes do Porto no programa abandonou o estúdio — o que acabou por beneficiar o clube. Segundo ouvi dizer, a cadeira vazia teve, no resto do debate, uma postura mais sensata e digna do que o seu ocupante habitual costuma ter. Até nisto têm sorte, os portistas. Evidentemente satisfeitos com a nova representação, os responsáveis da SAD do Porto emitiram um comunicado no qual afirmam que o clube «não apoiará qualquer sócio ou adepto que venha a ser enquadrado como representante do clube, nem lhe prestará qualquer tipo de informação, pelo que todas as suas posições serão sempre pessoais» Na tentativa de manter a excelente cadeira como representante, o Porto decreta um blackout preventivo a um possível futuro comentador. Percebo a intenção, mas gostava que a RTPN arranjasse um substituto. Sem desprimor para os porta-vozes oficiais, seria refrescante ver um comentador do Porto cujas posições fossem, desta vez, sempre pessoais.
OS adeptos de futebol assistiram , na semana que passou, a um fenómeno meteorológico interessante. Todos conhecia mos o fogo-de-santelmo, uma luz provocada por descargas eléctricas na atmosfera, observada frequentemente pelos marinheiros. Parece mesmo fogo, mas não é. «Vi claramente visto o lume vivo», diz Camões n’Os Lusíadas. Esta semana, Portugal conheceu o penalty de Santeimo. Vi claramente visto o penalti nítido, teria dito o poeta, se tivesse escrito a epopeia do futebol português (e em hendecassílabos). De facto, na segunda- feira, o penalty era claríssimo. «São muitos dos meus jogadores a dizerem que é demasiado claro», declarou Villas-Boas. Apelou a que toda a gente metesse pressão na TVI para mostrar as imagens que, por capricho ou conspiração, se recusava a transmitir. «77:53!», bradava o director de comunicação, sem que se percebesse ao certo se estava a indicar um minuto do jogo ou um versículo da Bíblia que anunciava que o fim estava próximo para todos os que não vissem o penalty. As imagens, por manifesta má vontade, é que teimavam em não mostrar nada. Passou um dia. Deve ter havido reuniões. Que fazer? Atacar a credibilidade das imagens? Se as escutas não podem ser aceites como meio de prova, era o que faltava que as imagens pudessem sê-lo. Não, está muito visto. Não havia alternativa: era mesmo preciso fazer um mea culpa. Afinal, 24 horas depois, as buscas terminaram e o penalty não apareceu. O que era claríssimo passou a inexistente. Pois bem, devo dizer que não concordo. Na minha opinião, André Villas-Boas tinha razão na segunda-feira à noite. O lance que ocorre aos 77 minutos e 53 segundos do Guimarães - Porto é mesmo penalty. Trata se de uma jogada em que nenhum jogador adversário comete qualquer infracção às leis do jogo. Normalmente, é o que basta para ser penalty a favor do Porto. Há jurisprudência neste sentido. As regras do futebol são uma coisa, a tradição é outra. Um jogo em que o árbitro se limita a perdoar um penalty ao Porto e a protelar a expulsão do Fucile durante vários minutos continua a ser um escândalo, e não há imagens que me convençam do contrário.
No final do jogo, nem todas as declarações foram absurdas. «Vou ficar atento para saber se este árbitro vai de férias», avisou Pinto da Costa. Ora até que enfim. Não foi precisamente por falta de atenção às férias dos árbitros que certas facturas da Cosmos que foram pagas por engano? Pode ser que alguma coisa esteja a mudar.


Por Ricardo Araújo Pereira, 9 de Outubro in jornal A Bola

sábado, 9 de outubro de 2010

Duas notas

1 - O presidente do Benfica finalmente esteve 100% bem numa entrevista. Dominou bem os registos - foi irónico e sarcástico quando teve de ser, mas também soube falar a sério no momento certo -, mas acima de tudo manteve a coerência no discurso, não se deixou enrolar e mandou as mensagens certas para todos os intervenientes. Desta vez, tiro-lhe o meu chapéu. Faltou apenas, como li no grande A Mão de Vata, mandar a boca ao treinador do Porto de pedir para repetir o jogo de Guimarães, mas pronto, não se pode pedir a excelência. Digamos que esteve "apenas" muito bem.

2 - Pode ser de mim, mas parece-me que bastou a selecção nacional arranjar um verdadeiro treinador para os resultados começarem a surgir e as próprias exibições da equipa melhorarem substancialmente. Parecendo que não, isto de ter um comandante a sério no banco muda muita coisa... Ah, e para quem dizia que o nosso Carlos Martins nunca mais ia pisar na selecção, não só pisou como fez parte do 11. Eu sempre achei que o Paulo Bento tem uma espinha dorsal elevada, e não me enganei. Agora já acredito na qualificação para o Europeu. Se bem que ainda não percebi muito bem se desta vez se qualificam os 2 primeiros do Grupo (como aconteceu em 2008) ou se vai apenas o primeiro. Mas seja como for, acredito no apuramento. Vamos lá ganhar agora na Islândia!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

RAP


«A Bola tem três cronistas portistas — o Francisco José Viegas, o Rui Moreira e eu próprio. E, fora os da casa, tem três benfiquistas: o RAP, o Sílvio Cervan e a Leonor Pinhão. Nós, os três portistas, todos aqui escrevemos que (apesar do túnel da verdade, de quase metade dos jogos terminados com superioridade numérica e tudo o resto), o campeonato do ano passado ganho pelo Benfica foi inteiramente justo, porque jogou o melhor futebol. (...) Mas alguém já viu algum dos cronistas benfiquistas reconhecer mérito (...) a uma vitória do FC Porto (...)? »
Miguel Sousa Tavares, 28 de Setembro de 2010

«Durante muito tempo, achei (…) que, com túnel ou sem túnel, o Benfica merecia ganhar este campeonato, porque era a equipa que melhor jogava (...). Mas a verdade é que um campeonato não são 15, nem 20, nem 25 jornadas: são 30 e o saldo final deve-se fazer às 30. E, no último terço do campeonato, desapareceu aquele Benfica que jogava mais e melhor»
Miguel Sousa Tavares, 11 de Maio de 2010

«O Fernando Guerra pode, pois, tomar nota desde já: dificilmente os portistas e os bracarenses irão reconhecer o mérito de um campeonato ganho pelo Benfica nestas circunstancias»
Miguel Sousa Tavares, 16 de Fevereiro de 2010

Não tenho outro remédio senão admitir que Miguel Sousa Tavares tem sempre razão. Ter sempre razão não é fácil, e MST consegue-o da maneira mais trabalhosa. MST não tem sempre razão por conseguir exprimir constantemente a opinião mais correcta, mas sim por exprimir uma grande variedade de opiniões sobre o mesmo assunto. Nisto das convicções, MST joga com múltiplas. Acerca do último campeonato, às segundas, quartas e sextas reconhece o mérito do Benfica; às terças, quintas e sábados assegura que o Benfica não teve mérito nenhum. Aos domingos, provavelmente, descansa a espinha dorsal, que deve chegar dorida ao fim-de-semana. No entanto, mais notável do que a capacidade para estar sempre certo é o talento para manter a mesma superioridade moral quando diz uma coisa e o seu rigoroso inverso. É muito raro uma trampolinice ser eticamente irrepreensível, mas para MST não há impossíveis. Nos dias em que garante que os portistas são os únicos que reconhecem o mérito dos adversários, MST tem a superioridade moral dos que aceitam a derrota com desportivismo; nos dias em que exige que fique registado que os portistas nunca reconhecerão o mérito dos adversários, tem a superioridade moral dos que não pactuam com fraudes. Quanto a mim, é evidente que não possuo arcaboiço para competir neste campeonato de moralidade com MST — quer com o que tem a nobreza de reconhecer méritos, quer com o que tem a dignidade de não reconhecer méritos nenhuns. Só posso prometer que, se o presidente do Benfica for apanhado em escutas a indicar o caminho para sua casa a um árbitro nas vésperas de um jogo, a Leonor Pinhão, o Sílvio Cervan e eu viremos aqui escrever que esse tipo de conduta nos envergonha. E daremos razão a todos os adversários que não reconhecerem mérito a títulos conquistados à custa desse modelo de dirigismo desportivo. É pouco, mas é o que tenho para oferecer.

«Realmente. Luis Filipe Vieira e Ricardo Araújo Pereira têm razão: o Hulk é uma banalidade. Deve ser por isso que tão empenhada mente manobraram para o tirar de jogo»
Miguel Sousa Tavares, 28 de Setembro de 2010

Como se não fizesse já demasiado, MST ainda tem a simpatia de ser meu arquivista. E dos mais competentes: tanto colecciona o que vou dizendo, como também arquiva o que nunca disse. Na verdade, eu nunca disse que o Givanildo era banal. Posso ter tido o atrevimento de pensar, como o seleccionador do Brasil, que não é inigualável. Talvez tenha a insolência de acreditar como, aparentemente, a generalidade do mercado —, que não vale 100 milhões de euros. Mas, no que diz respeito a críticas, nunca fui tão violento como o vigilante Rui Moreira, que ainda há um ano escrevia: «Hulk (...) não sabe jogar de costas para a área (...). Além disso, parece ter entendido mal os recados do treinador e o mais que dele se viu foi que se entreteve a adornar as jogadas, a tentar “quaresmices” e a simular faltas.» Nunca fui tão acintoso como o mesmo Rui Moreira, que dois meses depois acrescentou: «Gostei de ver Hulk sentado no banco. (...) talvez lhe devessem ter explicado que fora preterido por causa dos seus tiques e individualismo, das suas inócuas simulações. Talvez assim tivesse optado por uma outra atitude, logo que surgisse a oportunidade de jogar. Em vez disso, e como tem sido costume, Hulk foi de pequena utilidade quando entrou.» E nunca disse que, na época passada, as prestações do Givanildo estavam «a léguas do desempenho do ano anterior», como escreveu aqui MST escassos 40 dias antes de o jogador, talvez por causa do fraco desempenho futebolístico, ter resolvido dedicar-se ao pugilismo.

Por outro lado, sou dolorosamente forçado a reconhecer que MST me desmascarou quando revela que, em conluio com o presidente do Benfica, eu «manobrei empenhadamente para tirar o Givanildo de jogo». Normalmente, as teorias da conspiração consistem em palermices mais ou menos lunáticas, sem qualquer sustentação em provas. Não é o caso desta. A pujança da minha influência no futebol português é bem conhecida. As conversas conspiratórias que mantenho com Luís Filipe Vieira estão amplamente documentadas no You-Tube. MST e Rui Moreira ainda tentaram enganar-me, escrevendo várias vezes que o rendimento do Givanildo era pobre, para que eu fosse levado a pensar que o jogador não era assim tão fundamental na manobra da equipa do Porto, na época transacta. Mas a mim ninguém passa a perna, e foi precisamente o Givanildo que eu escolhi para tirar de jogo através das minhas maquinações. Confesso: o castigo do Givanildo foi ideia minha. Por absoluta falta de espaço, deixo para a semana a confissão do meu envolvimento na morte do Kennedy.

Por Ricardo Araújo Pereira, 2 de Outubro de 2010 in jornal A Bola

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

JVP


Benfica-Braga

1 - Intenso, táctico mas sem emoção

Intenso como se esperava, táctico como era previsível, foi pena que não tenhamos assistido a um jogo com o brilhantismo que as equipas poderiam dar noutra altura que não esta, em que a margem de erro destas duas candidatas ao título é reduzida. Percebeu-se cedo que era uma partida em que, para ambos, o importante era não errar e tentar ser eficaz nas poucas oportunidades que fossem criadas. Daí podermos afirmar que faltou emoção e golos; só houve um, mas foi bom.
O Benfica entrou melhor, fez 15 minutos bons em que foi mais pressionante, consigo estar por cima do jogo, mas sem criar oportunidades. Nesse período, o Braga esteve mais preocupado com a organização defensiva, procurou jogar com 11 homens atrás da linha da bola, à procura de espaço para apostar em transições rápidas com a bola metida para as costas do defesa adversária, até porque a velocidade não é propriamente uma das características principais dos centrais do Benfica.

2 - Braga obriga Benfica a jogar pelo meio

O Braga modificou um pouco a sua forma habitual de jogar. Recuou as linhas de forma propositada e tratou de tapar as laterais. Creio que a preocupação do Domingos era obrigar o Benfica a jogar pelo meio, e conseguiu-o. Nesse pormenor de fechar as alas, há que destacar o trabalho de Salino, que normalmente joga pelo meio e ontem alinhou encostado à direita, conseguindo travar Coentrão e não deixando nunca de procurar atacar.
Gradualmente, o Braga foi subindo no terreno e conseguiu equilibrar o jogo, mas, tal como estava a acontecer com o Benfica, quando chegava ao último terço do terreno faltava-lhe qualquer coisa. Ora faltava serenidade na finalização, ora faltava concentração para a definição do último passe. A excepção foi o disparo de Elderson, obrigando Roberto a uma grande defesa.

3 - Uma só oportunidade mostra o que foi a primeira parte

Também do lado do Benfica se notava uma grande preocupação táctica, tendo a equipa conseguido apenas uma oportunidade de golo flagrante, numa jogada em que Hugo Viana, ao tentar adivinhar o lance, desequilibrou a defesa e permitiu a Aimar servir Saviola, tendo valido ao Braga a grande defesa de Felipe. Ora, o Benfica ter apenas uma oportunidade flagrante na primeira parte diz tudo sobre a forma cautelosa como estava a decorrer o jogo. É preciso acrescentar que, para além da preocupação do Braga em fechar as alas, o Benfica também terá aceitado a ideia de jogar pelo meio devido à falta de Cardozo. Kardec é um jogador diferente, mais móvel, mas que não exige tantas idas à linha.
Apesar do retraimento inicial, a primeira parte acabou com o Braga por cima e a criar duas ocasiões de perigo, o que reflecte existência de equilíbrio.

4 - Podia cair para qualquer lado

O Braga entrou com outra intenção para a segunda parte, equilibrou o jogo o tempo todo. A equipa percebeu que podia fazer mais, para além de que o recuo inicial também me pareceu estratégico. Era fácil perceber que Domingos pretendia aguentar o impacto inicial para depois meter em campo Paulo César e Matheus, dois avançados rápidos, como aconteceu. Aliás, quando Paulo César entrou ainda estava 0-0.
Também o Benfica teve de optar pelas transições rápidas, mantendo o sentimento que dominou todo o encontro: não perder a concentração nem permitir desequilíbrios defensivos.
Numa altura em que o jogo podia cair para qualquer dos lados, apareceu o grande golo de Carlos Martins, numa jogada soberba que começa com o entendimento entre Coentrão e Saviola, a grande visão de jogo deste e a movimentação de Kardec a atrair Elderson para a área, ficando a sobrar Martins, na direita, para uma grande finalização.
Como lhe competia, o Braga reagiu, Sílvio desperdiçou uma boa oportunidade - a tal falta de serenidade -, ao passo que o Benfica se preocupou em gerir a vantagem.

5 - Carlos Martins, Luisão, Alan e Felipe foram os melhores

Na escolha dos melhores, opto por Luisão e Carlos Martins, no Benfica, Alan e Felipe, no Braga.
Luisão pela segurança que tem dado à equipa, não só nas bolas paradas, mas também nas coberturas que faz a David Luiz, a quem as coisas não andam a sair muito bem. Ontem não comprometeu, mas nota-se muito a preocupação do Luisão em corrigir os erros de posicionamento do colega do lado. O contrário é que não se vê, daí que o rendimento defensivo do Benfica este ano esteja a ser menor do que na época passada.
Carlos Martins é um jogador competitivo, atrevido, inteligente, combativo e um grande finalizador. Decidiu um jogo muito importante para o Benfica com um grande golo - e quem nem foi marcado com o seu melhor pé.
Alan é importante em qualquer equipa. É um jogador que não tem medo de ter a bola, assume o jogo, quer ganhar e galvaniza a equipa.
Felipe fez duas grandes defesas e estava a precisar delas depois de dois jogos em que passou por grandes dificuldades. Não tinha hipóteses no golo.

6 - Não faz mal a Coentrão andar a saltar de lugar

Uma referência final para Fábio Coentrão. Não pelo que jogou nem pela perdida no último minuto dos descontos, mas por ter voltado a jogar como lateral-esquerdo depois de ter estado bem como ala. Não é de estranhar que vá alinhando umas vezes como médio e outras como lateral, nem isso lhe faz mal, porque em ambos os casos dispõe de liberdade ofensiva. Creio que, pelo menos em casa, estará fadado a ser lateral, mas, com as melhorias evidenciadas por Gaitán, até pode voltar a jogar sempre mais recuado.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Apitos e coisas que tais...

Estive a guardar este post para um momento que achasse oportuno, pois não queria estar a levantar mais ondas contra arbitragens e tudo isso neste campeonato que tem sido tão... chamemos-lhe acidentado. No entanto, com a vinda a público das novas escutas, penso que é o momento. Esta foi uma reportagem produzida há uns anos pela RTP e que curiosamente foi praticamente abafada, quase nem a deixaram vir a público. Mas veio, e prova em grande parte a podridão existente naquele clube, perpetrada por dirigentes vigaristas, bandidos e corruptos que lá pululam nos últimos 30 anos.














Sugestivo, não é? Então fiquem também com as novas escutas que vieram a público há dois dias. De destacar aquela em que fica claramente provado que o Mourinho rasgou, de facto, a camisola do Rui Jorge e da tramóia que os dirigentes desse clube corrupto arranjaram para que o delegado ao jogo modificasse o relatório, de modo a que o Mourinho não fosse castigado. Surreal. Já para não falar da forma como insulta tudo e todos. Realmente neste país o chico-espertismo e a saloiada é que manda. Tenho vergonha disto. E os adeptos do Porto que tiverem algum nível também deviam de se sentir envergonhados e ofendidos. Mas não, adoram o seu querido presidente. Claro, enquanto ele vos der vitórias a todo o custo, está tudo bem, não é? Mentalidades tacanhas...











Benfica 1 - 0 Braga - 7ª Jornada 2010/11

Voltámos aos dias felizes. Embora este ainda não seja o Benfica dominador (o "rolo compressor") da época passada, vimos hoje um Benfica a pressionar desde o início, com muita garra, ambição e vontade de vencer. Mais do que a qualidade exibicional, a chamada "nota artística", o que quero ver no meu Benfica é esta acutilância, esta vontade de ganhar que caracterizou o nosso futebol na temporada passada. E hoje vimos isso na Luz. A vitória foi totalmente merecida e coloca-nos, neste momento, a 6 pontos do topo. Como não me parece que o Porto perca pontos amanhã, creio que iremos continuar a 9, mas ainda faltam 23 jornadas e muita coisa pode ainda javascript:void(0)acontecer. Para já, subimos ao 2º lugar, o que parecia quase impossível há um par de semanas.


Como já disse acima, a entrada do Benfica no encontro foi arrasadora. A primeira meia-hora foi, talvez, a melhor que já vi a nossa equipa fazer esta temporada - para tal também pode ter contribuído a decisão do Domingos em vir à Luz jogar a medo, deixando os habitualmente titulares Paulo César e Matheus no banco. No Benfica, o grande destaque foi a ausência do Cardozo, lesionado no jogo com o Schalke. Ora, Kardec, não sendo nem de perto nem de longe um clone do Tacuara, esteve à altura das circunstâncias. Apesar de não ser tão goleador como Cardozo, e inclusive tendo estado até há pouco tempo ausente por lesão, o brasileiro cumpriu muito bem a sua tarefa, desgastando os defesas contrários com a sua mobilidade e capacidade atlética, que lhe permitiu, por exemplo, assistir Saviola para o falhanço incrível do argentino na cara de Filipe, alguns minutos antes do golo de Carlos Martins. Além desse lance, de salientar o excelente remate de pé direito ainda na primeira parte, sem preparação e quase sem espaço. Claramente um jogador a reter, pois o talento está lá e é enorme. De Martins já não há muito para dizer: sempre foi um dos meus preferidos deste plantel (tenho uma certa propensão para gostar deste tipo de jogador: com a sua dose de loucura, mas capaz de ser genial) e está um senhor jogador. A exibição foi mais uma vez belíssima e aquele golo só está ao alcance de predestinados: a forma como recebe a bola com o pé direito, de forma orientada, deixando-a bem ao alcance do pé esquerdo, e o tiro indefensável... sensacional.
Uma nota de destaque também para o mal-amado Roberto (não sei se já é possível dizer isto, mas penso que sim): o espanhol já se redimiu dos erros crassos cometidos no início da época. Com as defesas sensacionais efectuadas perante Sporting, Hapoel, Marítimo, Schalke e hoje a remate de Elderson (sem esquecer o penalty com o Vitória de Setúbal), Roberto mostrou finalmente que afinal tem mesmo todas as condições para vir a ser um guarda-redes de topo e dar muitos pontos ao Benfica. Até nos cantos e livres laterais já melhorou: deixei de ver aquelas saídas extemporâneas e passei a ver um guarda-redes mais concentrado e acima de tudo sereno, só saindo pela certa, deixando a defesa resolver a questão numa fase inicial. A mim já me calou.


Do Braga, destaco a exibição de Alan: claramente o melhor jogador do plantel minhoto. Se fossem todos assim, este Braga era de Champions. O problema é que não são.

Esta vitória permite-nos, além de garantirmos desde já a 2ª posição (se o Vitória de Guimarães vencer amanhã e cairmos para 3º, melhor; não me importo nada), respirar um pouco melhor, afastando completamente o mau início, e também colocar um pouco de pressão sobre o líder. Com a paragem das selecções, a equipa terá tempo para colocar as ideias em ordem, para trabalhar as rotinas de jogo e preparar com todo o afinco a deslocação a Portimão (um jogo que não vai ser nada fácil, embora a defesa do Portimonense seja fraquinha). Na cabeça de todo o grupo só pode estar um pensamento: a vitória, tanto em Portimão como na semana a seguir, na recepção ao Paços de Ferreira. É que na 10ª jornada temos a deslocação ao Dragão, e é absolutamente proibido perder pontos antes disso para continuarmos a pensar no título (se tudo correr bem, podemos sair dessa partida a apenas 3 pontos do Porto). Porque eu ainda acredito, rumo ao 33º!

O resumo do jogo aqui:

sábado, 2 de outubro de 2010

Morreu um dos nossos

Por manifesta falta de tempo e de oportunidade, acabei por deixar escapar este facto que já aconteceu há uma semana mas que hoje recupero, porque a personalidade assim o exige.

Fernando Riera

Esteve no Benfica em 1962/63 e depois entre 1966 e 1968


1927 - 2010

Descansa em paz


Esta é a minha homenagem a um homem que se sagrou, ao comando do Benfica, tri-campeão nacional, além de ter sido vice-campeão na Taça dos Campeões Europeus (62/63 e 67/68) e na Taça Intercontinental em 62/63.