FC Porto-Benfica
1 - Opções de Jesus resultaram duplamente mal
A vitória do FC Porto começa por explicar-se através das opções de Jorge Jesus para o onze inicial. A sua intenção ao colocar David Luiz no lado esquerdo da defesa e Salvio no meio-campo era tornar a equipa mais compacta em termos defensivos. Em teoria, David Luiz iria fortalecer o lado esquerdo e, juntamente com Coentrão, travar Hulk; Salvio ajudaria a ganhar o meio-campo que passaria, na prática, a ter quatro homens. Percebo o pensamento do treinador do Benfica, mas a equipa não respondeu ao que ele pretendia e acabou por ver-se duplamente prejudicada: por um lado, porque David Luiz não tem rotinas de lateral-esquerdo, perdendo-se na posição, e com os desequilíbrios do FC Porto a surgirem por esse lado; por outro lado, a equipa não criou perigo, pois faltou-lhe a dinâmica que normalmente surge por via do entendimento entre Aimar e Saviola. Só que este último não estava em campo!
2 - O mérito do FC Porto e a potência de Hulk
Há, naturalmente, muito mérito do FC Porto - que inicialmente fez um jogo muito inteligente, pensado, gradualmente intensificando a pressão sobre o Benfica quando não tinha a posse de bola. O FC Porto percebeu os problemas que o Benfica ainda não conseguiu resolver do lado esquerdo, em que das duas posições só uma oferece garantias, que é aquela onde jogar Coentrão. A fragilidade nesse flanco é visível pelas constantes alterações de jogadores - ora entra César Peixoto, ora Gaitán, que dá boa dinâmica atacante mas não defende. Além disso, a equipa portista tem, do meio-campo para diante, jogadores que circulam bem a bola, que criam uma boa dinâmica e no ataque tem elementos que desequilibram. E, neste momento, é muito difícil segurar Hulk, em especial quando lhe pertence a iniciativa da jogada. A partir do momento em que se vira de frente para o adversário, fruto do seu poder de arranque, ganha-lhe logo dois metros. E a isto junta-se velocidade e potência de remate.
3 - O Incrível definiu o encontro
A história do encontro não é difícil de contar. Nos primeiros dez minutos, as equipas estudavam-se, procuravam manter a organização defensiva mas também responder aos ataques uma da outra. Até que surge o momento que marca o jogo: Hulk desequilibra e define o que se passaria daí para a frente. Embora David Luiz pudesse fazer um pouco mais, é muito difícil travar este Hulk. Seja David Luiz ou qualquer outro defesa!
4 - Um grande golo de Falcao
Falcao fez um grande golo e de execução muito difícil. Uma coisa é a bola vir a rolar rente à relva, em que basta um pequeno toque para a desviar. Aqui tratou-se de um lance muito mais difícil, pois a bola vem pelo ar e o avançado colombiano é obrigado a imprimir-lhe mais força para ela entrar. A beleza do golo começou, no entanto, na forma como ganhou o espaço e depois pela rapidez com que pensou e executou.
5 - Eficácia portista e incapacidade encarnada
Sublinho a tremenda eficácia demonstrada pelo FC Porto. Fez três golos nos primeiros três ataques perigosos que efectuou e conseguiu sempre alargar e aprofundar melhor o seu jogo. O Benfica não teve essa capacidade nem conseguiu arranjar argumentos para responder. Aliás a sua grande oportunidade foi apenas na segunda parte, quando após um canto Luisão amorteceu para um remate de David Luiz, a que Helton correspondeu bem. O Benfica não conseguiu reagir aos golos sofridos e se as coisas já estavam complicadas ainda mais ficaram com a expulsão de Luisão. É uma daquelas coisas que não deveria acontecer mas que reflectem a situação do Benfica, com os jogadores a sentirem que a equipa não está a reagir - e logo num clássico - e a verem aumentar a diferença pontual para o rival.
6 - FC Porto superior
Assim como na época passada se reconhecia que o Benfica estava a ser superior, agora deve fazer-se o mesmo em relação ao FC Porto. E não é só Hulk que merece ser destacado, ainda que o seu momento actual de forma possa roubar protagonismo a Varela, Falcao, Belluschi ou Moutinho. A entrada deste último no meio-campo foi, de resto, fundamental, pois ao ser muito disciplinado tacticamente permitiu que Belluschi se libertasse e passasse a fazer desequilíbrios à semelhança de Lucho González e a aparecer nas costas dos avançados. Os jogadores que entram estão confiantes porque a equipa está bem. Exemplos disso são Guarín (nem se notou a ausência de Fernando) e Rúben Micael, que substituiu Belluschi. Este estado de espírito permite motivar tanto os titulares como aqueles que jogam menos. E tudo isto sem a pressão pontual, pois o adversário mais próximo está já a dez pontos
7 - Bem encaminhado para o título
Embora se pense nisso, não se deve dizer já que a época está resolvida. Mas é inegável que o FC Porto está muito bem encaminhado rumo ao título, apesar de ainda só terem sido disputadas dez jornadas, isto é, o primeiro terço do campeonato. Digo isto não só pela diferença pontual mas sobretudo pela forma como a equipa está a jogar. Isto é semelhante ao que sucedeu com o Benfica na época passada. A grande diferença é não ter um rival à altura como o Benfica teve no Braga na última temporada, o que permite ao FC Porto respirar ainda melhor.
4 comentários:
Caro companheiro, esse sabe do que fala é há que escutá-lo sempre com muita atenção, julgo mesmo que JVP deveria fazer parte da nossa estrutura do futebol, pois ele sabe representar o espírito do Benfica.
Das leituras do jogo mais clara, transparente e verdadeira; não há como ter sido jogador e saber como dizer as coisas...
Por muito que custe aos Benfiquistas, deviam dar mais atenção a estas palavras para não cometerem os mesmos erros de anos consecutivos. Depois de um ano de deslumbramento.... Deitam sempre tudo a perder. Os adversários agradecem.
Isso tem um nome: Depressão; Bi-polar. Ora os maiores do mundo; ora uma desgraça completa - nem uma coisa nem outra.
CS
Não costumo comentar aqui apesar de ler os posts, mas vinha aqui comentar o mesmo que o Jotas: gostava muito de ver o JVP como dirigente do nosso Benfica, bem ligado ao futebol. Transpirava qualidade em campo e agora também nos comentários, tem muitos anos disto.
Também eu. Talvez um dia...
Quanto à qualidade dos seus comentários, há a tendência para afirmar que quando se foi jogador há muito mais probabilidades de saber do que está a falar, de perceber de futebol e saber explicá-lo. Na verdade, muitas vezes isso não acontece. Ao JVP, pelo contrário, é um prazer lê-lo e ouvi-lo. Devo dizer que concordo quase sempre com o que diz nas crónicas, o que para mim é bom a dobrar, visto que ele foi o meu ídolo enquanto jogador e, depois de terminar a carreira, nunca me deu razões para ficar desiludido com a sua conduta. Pelo contrário: já mostrou que é inteligente, sabe falar, sabe estar. Fossem todos assim.
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