sábado, 16 de janeiro de 2010

O nosso plantel VII - David Luiz

Depois dos guarda-redes, dos laterais direitos e do patrão da defesa, vem o homem da raça: David Luiz.



O Xerife, como já é chamado dentro do plantel encarnado, chegou ao Benfica em Janeiro de 2007, recomendado a Fernando Santos pelos olheiros que deambulavam por terras de Vera Cruz em busca de jovens com futuro promissor. Repararam num miúdo que jogava a central mas também correspondia como trinco, de apenas 19 anos, que jogava num clube acabado de descer à 3ª divisão brasileira, o Vitória da Baía. E ele veio para a Luz, com a difícil tarefa de vir substituir Ricardo Rocha, que entretanto havia saído para o Tottenham, e Alcides, transferido para o PSV Eindhoven. Haveria de se estrear num jogo de alto risco, na Europa, frente ao Paris Saint-Germain, devido a lesão de Luisão, e a sua exibição, apesar de alguns erros próprios de um jovem de 19 anos a estrear-se numa equipa como o Benfica e logo na Europa, convenceu os mais cépticos, entre os quais o próprio treinador Fernando Santos, que havia mostrado nos jogos anteriores ter medo de colocar o miúdo em campo (no jogo anterior, fora, com o Aves, por exemplo, recuou Katsouranis para central, deixando David Luiz no banco). Devido à lesão de Luisão e a essa exibição bem conseguida, o miúdo fez os últimos 10 jogos da Liga e ainda 4 na Europa, prometendo mais para a época seguinte.



Época essa que começou mal e acabou ainda pior para David Luiz e para o Benfica. O central começou a temporada lesionado, assim como Luisão e Zoro (nos primeiros jogos, e enquanto o certificado de Edcarlos não chegava, a dupla de centrais chegou a ser Katsouranis-Miguel Vítor). Entretanto, David Luiz recuperou, mas apenas fez 8 jogos nesta época, ficando célebre o nó que levou de Quaresma no golo que deu a vitória do Porto na Luz por 1-0. Uma lesão grave na segunda metade da época afastou-o das cogitações dos treinadores encarnados. Em suma, uma temporada inteira praticamente perdida.



E assim começou a época seguinte, falhando inclusive os Jogos Olímpicos de Pequim'2008, onde tinha lugar marcado ao serviço da selecção brasileira. Voltou aos poucos ao ritmo demonstrado na época de estreia, mas entretanto, Luisão e Sidnei haviam-se tornado imprescindíveis para Quique. A solução que o treinador espanhol arranjou para conceder a titularidade a David Luiz foi adaptá-lo a defesa esquerdo, prescindindo do ídolo dos adeptos, Léo, e do inadaptado Jorge Ribeiro. E se, na óptica do treinador espanhol, a coisa não correu mal, o mesmo não se pode dizer da maioria dos adeptos encarnados, que sempre viram nesta adaptação um desperdício de talento, pois David Luiz nunca foi capaz de encantar nessa posição, destacando-se a derrota em Alvalade, por 3-2, onde foi constantemente "papado" por... Pereirinha. Acabou a época com 19 jogos e 2 golos, ganhando a taça da Liga, mas com muitas dúvidas de todos os simpatizantes encarnados em redor do seu valor, que tardava a confirmar.



Mas tem confirmado este ano, sob as orientações de Jorge Jesus. Passou, depois de 3 experiências nessa posição (recepção ao Marítimo e deslocações a Poltava e Everton) definitivamente a contar apenas como central para o técnico encarnado e é aí que tem revelado estar a atingir grande parte da plenitude das suas potencialidades. A raça, a vontade, o querer que aplica na disputa de cada lance, bem como a qualidade técnica de que dispõe e que lhe permite, não raras vezes, aventurar-se pelo terreno e até procurar o golo, puseram a Europa de olho nele, falando-se inclusive do interesse de Real Madrid e Milan na sua contratação. No entanto, é o elevado benfiquismo que já demonstra ter (na retina ficaram os seus festejos com os adeptos aquando do golo de Javi García à Naval, entre outras manifestações que tanto enchem de alegria a massa afecta ao clube) que faz dele um dos jogadores do plantel mais queridos pelos sócios, pois sentem que David Luiz vibra como eles com o clube. Esta época David Luiz só ainda falhou 2 jogos, em casa com o AEK para descansar para a recepção ao Porto, e em Vila do Conde, castigado. Tem feito uma dupla terrivelmente eficiente com Luisão, tendo apenas 9 golos sofridos no campeonato (2ª melhor defesa). E até já marcou 2 golos (e um auto-golo). Chegou este ano à hierarquia dos capitães, sendo actualmente o terceiro do plantel, atrás de Nuno Gomes e Luisão.



Esta época tenho de fazer um mea culpa: nunca fui com o estilo de David Luiz, nunca foi um jogador que me enchesse as medidas, confesso. Até ao início desta temporada sempre o tinha achado um jogador mediano e claramente sobre-valorizado pelos média, pelos adeptos e pelos treinadores. E talvez até tivesse razão. E ele, certamente para me desmentir (eheheh), resolveu tornar-se um grande defesa central sob os comandos de Jorge Jesus. E, de todos os predicados que já apontei no parágrafo anterior, destaco, obviamente, a mística benfiquista que o miúdo tem vindo a demonstrar esta temporada. Já não via algo assim há muito tempo, e tem contagiado os seus colegas, como já pudemos constatar pelas demonstrações evidentes de benfiquismo, de querer, de mística, de Javi García, de Nuno Gomes, de Luisão, de Saviola, de Carlos Martins, de Fábio Coentrão nos relvados, e outros, naturalmente mais tímidos, como Ramires e Cardozo, em palavras. A mística faz-se disto, de jogadores assim. E David Luiz, apesar de um ou 2 deslizes logo no início da época, tem feito uma temporada - e eu nem gosto desta palavra - brutal! Já merecia (muito, mas muito mais que Hulk) uma chamada à selecção brasileira, mas isso são contas de outro Dunga que não eu. O miúdo fez-se homem e eu só tenho de bater palmas e regozijar-me com cada actuação sua, sempre cheia de benfiquismo.

Que pensam os leitores de David Luiz?

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