Em mais de 50 anos não conseguiram os partidários do dragão descortinar uma relação entre feitos desportivos do Benfica e eventuais favores de arbitragem
Se alguém se der ao trabalho de questionar quem lhe aparecer pela frente, minimamente identificado com os segredos do futebol, sobre o caso Calabote creio que a maioria responderá já ter ouvido falar, sem se perder em pormenores, por ignorância, outra franja incomensuravelmente menor será capaz de situar os acontecimentos, embora de forma vaga, e uma outra dirá não saber o que se passou a não ser que se tratou de um esquema para favorecer o Benfica.
Estamos a falar de algo que aconteceu há mais de 50 anos, em 22 de Março de 1959. Eu próprio, já em lista de espera para reforçar a equipa da terceira idade, na minha memória apenas guardo indecifráveis sinais de uma história misteriosa, mal conhecida e que, em consequência, tem dado origem, através dos anos, a muitas outras histórias de duvidoso rigor.
Precisamente no dia 22 de Março de 2009 foi publicado em A BOLA um trabalho assinado pelo meu camarada Carlos Rias a propósito do cinquentenário de uma data, de um jogo e de uma arbitragem, focos alérgicos da comichão intensa e continuada que há tanto tempo incomoda as facções mais corrosivas da turba antibenfiquista. Nele se refere o que esteve na base da irradiação, um «problema moral» provocado pelo árbitro ao não mencionar no relatório que o Benfica-CUF principiara «cerca de dez minutos depois da hora marcada e teve um prolongamento de cinco ou seis minutos». Mas também se recorda que no antigo semanário Tal & Qual, Calabote, falecido em Janeiro de 1999, com 81 anos, afirmara que «a testemunha que serviu para o acusar foi o locutor da rádio em serviço no jogo do FC Porto, e nem havia delegado ao jogo na Luz». Enfim...
Se trago o assunto à colação é tão-somente por ter sido apresentado há dois-três dias na cidade do Porto um livro justamente com o título Caso Calabote, da autoria do jornalista João Queiroz, fruto de demorada e profunda investigação e a quem desejo sucesso editorial.
O livro ainda não li, mas espero fazê-lo em breve. O tema cativa e acredito que daqui a dez, vinte, trinta anos vai continuar a temperar animadas conversas, decerto bem mais elevadas que as que por aí se têm escutado...
De toda a maneira, não pude deixar de captar o sentido de oportunidade do apresentador da obra, Rui Moreira, prestigiada figura da vida portuense e distinto colunista de A BOLA, a quem leio todas as semanas com atenção. Como o tema central tinha a ver com Inocêncio Calabote aproveitou logo para fazer a ligação ao túnel de Braga, ao Benfica e aos erros que segundo ele beneficiam o clube da Luz... Bom, insisto na minha. Isso foi há mais de 50 anos, e se, desde então, não conseguiram os partidários do dragão, geralmente atentos e sagazes, descortinar segundo caso, susceptível de permitir uma relação entre algum feito desportivo do Benfica e eventuais favores do pessoal do apito, é porque de facto não existe.
Em contrapartida, orientando o azimute para outras direcções, explodem vários, igualmente interessantes, muito mais recentes e de fácil pesquisa: caso Calheiros ou caso Silvano; caso Correia ou caso Gonçalves; caso Silva ou caso Guímaro. É só escolher...
Por Fernando Guerra in A Bola
ONZE PARA A TAÇA
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