quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

JVP



Sporting-Benfica

1
Responsabilidade a mais

Num jogo intenso e bem disputado por parte de todos os intervenientes do espectáculo, há uma primeira nota a tirar: houve muito sentido de responsabilidade. E a responsabilidade transformou-se em pressão, o que, aliado ao mau estado do terreno - irregular, escorregadio e molhado -, contribuiu para que o futebol nem sempre tenha sido bem jogado. Daí termos assistido a vários passes errados de ambos os lados, principalmente faltou último passe e discernimento nas poucas situações de finalização que existiram.

Na primeira parte, assistimos a um jogo de contrastes, com o Benfica a tentar jogar no erro do adversário e o Sporting a querer provocar o erro ao opositor. E se o Benfica é muito forte nas transições, como toda a gente sabe, o Sporting ontem apareceu mais coeso, mais agressivo e mais forte a defender. Daí que no cômputo geral o Sporting tenha sido ligeiramente melhor do que o Benfica. Não é este o Sporting que está no sétimo lugar (e era oitavo antes do dérbi…). Com esta atitude na disputa de cada lance, por certo que esta equipa estaria bastante mais bem classificada.

2
Miguel Veloso, Quim e Matías Fernández

A partida teve um momento de grande brilhantismo que foi um grande remate de Miguel Veloso e uma fantástica defesa de Quim. Uma jogada que fugiu aos esquemas tácticos e em que sobressaiu o talento individual de ambos. E quando refiro esta jogada como tendo fugido aos sistemas de jogo, estou a falar de mérito e não de erros.

No que diz respeito às estratégias, para o Sporting foi fundamental encostar Matías Fernández a Javi García, pois impedia o Benfica de sair a jogar. Adrien, Moutinho e Miguel Veloso encaixavam nos restantes médios benfiquistas, funcionando como peças de bloqueio. Num terreno difícil, a grande concentração de homens no meio-campo condicionou o jogo e mexeu com a forma de jogar do Benfica, que ontem teve um Dí Maria precipitado e desinspirado. Digamos que em termos defensivos ambas as equipas estiveram bem, o que justifica que eu só tenha contabilizado três oportunidades de golo para o Sporting (Polga, Liedson e Miguel Veloso) e duas para o Benfica (Cardozo e Di María).

No esquema dos da casa há ainda a registar a colocação de Vukcevic à direita, o que lhe dava alguma liberdade de movimentos em termos ofensivos, mas que também revelava preocupação em tapar o corredor esquerdo do Benfica, que face ao bloqueio sportinguista teve de jogar directo algumas vezes. Só que o Benfica é sempre uma equipa venenosa e se Dí Maria e Cardozo estivessem inspirados, se calhar um jogo com ascendente do Sporting poderia ter pendido para o Benfica.

3
Benfica queria jogo aberto

A segunda parte trouxe novidades, porque o Benfica equilibrou a partida, superiorizou-se até ligeiramente e o Sporting deixou que o jogo se partisse, situação que só lhe podia ser adversa, face à velocidade com que normalmente os benfiquistas partem para o ataque. Daí que o Sporting tenha voltado a juntar as linhas e recuperado o ascendente. De ambos os lados havia a consciência de que um jogo aberto seria bem mais perigoso para o Sporting do que para o Benfica. E fica explicada a marcação cerrada a Aimar e Saviola.

4
Batalhas nas laterais

Também o posicionamento dos defesas laterais foi um espelho do jogo, pois, ao contrário do que é costume, os defesas do Benfica mostraram grandes preocupações defensivas. E se percebo que o César Peixoto, que não é rápido, tenha dado prioridade ao aspecto defensivo, surpreendeu-me mais a igual postura do Maxi Pereira, que tem muita rotina do lugar e costuma fazer muito bem ambas as funções. Mas ontem, foi dia de jogar pelo seguro. Igual postura para o Sporting a partir de dada altura. É que se já seria de esperar que o Caneira não subisse, pois é um jogador forte fisicamente e batalhador na defesa, o Sporting ficou claramente a perder com a lesão de Abel, o único lateral que subia. Pedro Silva não só ficou atrás como demonstrou dificuldades defensivas que Abel não teve.

No que diz respeito às substituições, vou analisar apenas as tácticas: Aimar por Rúben Amorim e Matías Fernández por Pereirinha. Em ambos os casos, os treinadores fizeram apelo à disciplina táctica dos jogadores que entraram em desfavor da criatividade daqueles que saíram.

5
Difícil escolher os melhores

Desta vez não é fácil escolher os melhores em campo. Em termos gerais gostei mais deste Sporting do que do anterior e o Benfica revelou-se uma equipa madura. Em termos individuais inclino-me para o Miguel Veloso, embora Moutinho e Adrien também mereçam destaque. Entre os benfiquistas, Javi García continua a ser importantíssimo no equilíbrio da equipa e na forma como se entrega aos lances em qualquer jogo. E o de ontem foi complicado para ele, até pela marcação que lhe foi movida, mas ele segura sempre a barra, como dizem os brasileiros. A outra nota alta da equipa vai para o Quim, que esteve muito bem. Talvez este jogo o tenha ajudado em termos futuros.

2 comentários:

Jotas disse...

Faltou apenas referir a melhor oportunidade de golo de todo o jogo que foi a de Ramires ao minuto 83.

JM disse...

Não sei como se podem esquecer de uma outra oportunidade mesmo no final da 1ª parte, em que por uma unha o Javi nao desviou para a baliza.