quinta-feira, 7 de outubro de 2010

JVP


Benfica-Braga

1 - Intenso, táctico mas sem emoção

Intenso como se esperava, táctico como era previsível, foi pena que não tenhamos assistido a um jogo com o brilhantismo que as equipas poderiam dar noutra altura que não esta, em que a margem de erro destas duas candidatas ao título é reduzida. Percebeu-se cedo que era uma partida em que, para ambos, o importante era não errar e tentar ser eficaz nas poucas oportunidades que fossem criadas. Daí podermos afirmar que faltou emoção e golos; só houve um, mas foi bom.
O Benfica entrou melhor, fez 15 minutos bons em que foi mais pressionante, consigo estar por cima do jogo, mas sem criar oportunidades. Nesse período, o Braga esteve mais preocupado com a organização defensiva, procurou jogar com 11 homens atrás da linha da bola, à procura de espaço para apostar em transições rápidas com a bola metida para as costas do defesa adversária, até porque a velocidade não é propriamente uma das características principais dos centrais do Benfica.

2 - Braga obriga Benfica a jogar pelo meio

O Braga modificou um pouco a sua forma habitual de jogar. Recuou as linhas de forma propositada e tratou de tapar as laterais. Creio que a preocupação do Domingos era obrigar o Benfica a jogar pelo meio, e conseguiu-o. Nesse pormenor de fechar as alas, há que destacar o trabalho de Salino, que normalmente joga pelo meio e ontem alinhou encostado à direita, conseguindo travar Coentrão e não deixando nunca de procurar atacar.
Gradualmente, o Braga foi subindo no terreno e conseguiu equilibrar o jogo, mas, tal como estava a acontecer com o Benfica, quando chegava ao último terço do terreno faltava-lhe qualquer coisa. Ora faltava serenidade na finalização, ora faltava concentração para a definição do último passe. A excepção foi o disparo de Elderson, obrigando Roberto a uma grande defesa.

3 - Uma só oportunidade mostra o que foi a primeira parte

Também do lado do Benfica se notava uma grande preocupação táctica, tendo a equipa conseguido apenas uma oportunidade de golo flagrante, numa jogada em que Hugo Viana, ao tentar adivinhar o lance, desequilibrou a defesa e permitiu a Aimar servir Saviola, tendo valido ao Braga a grande defesa de Felipe. Ora, o Benfica ter apenas uma oportunidade flagrante na primeira parte diz tudo sobre a forma cautelosa como estava a decorrer o jogo. É preciso acrescentar que, para além da preocupação do Braga em fechar as alas, o Benfica também terá aceitado a ideia de jogar pelo meio devido à falta de Cardozo. Kardec é um jogador diferente, mais móvel, mas que não exige tantas idas à linha.
Apesar do retraimento inicial, a primeira parte acabou com o Braga por cima e a criar duas ocasiões de perigo, o que reflecte existência de equilíbrio.

4 - Podia cair para qualquer lado

O Braga entrou com outra intenção para a segunda parte, equilibrou o jogo o tempo todo. A equipa percebeu que podia fazer mais, para além de que o recuo inicial também me pareceu estratégico. Era fácil perceber que Domingos pretendia aguentar o impacto inicial para depois meter em campo Paulo César e Matheus, dois avançados rápidos, como aconteceu. Aliás, quando Paulo César entrou ainda estava 0-0.
Também o Benfica teve de optar pelas transições rápidas, mantendo o sentimento que dominou todo o encontro: não perder a concentração nem permitir desequilíbrios defensivos.
Numa altura em que o jogo podia cair para qualquer dos lados, apareceu o grande golo de Carlos Martins, numa jogada soberba que começa com o entendimento entre Coentrão e Saviola, a grande visão de jogo deste e a movimentação de Kardec a atrair Elderson para a área, ficando a sobrar Martins, na direita, para uma grande finalização.
Como lhe competia, o Braga reagiu, Sílvio desperdiçou uma boa oportunidade - a tal falta de serenidade -, ao passo que o Benfica se preocupou em gerir a vantagem.

5 - Carlos Martins, Luisão, Alan e Felipe foram os melhores

Na escolha dos melhores, opto por Luisão e Carlos Martins, no Benfica, Alan e Felipe, no Braga.
Luisão pela segurança que tem dado à equipa, não só nas bolas paradas, mas também nas coberturas que faz a David Luiz, a quem as coisas não andam a sair muito bem. Ontem não comprometeu, mas nota-se muito a preocupação do Luisão em corrigir os erros de posicionamento do colega do lado. O contrário é que não se vê, daí que o rendimento defensivo do Benfica este ano esteja a ser menor do que na época passada.
Carlos Martins é um jogador competitivo, atrevido, inteligente, combativo e um grande finalizador. Decidiu um jogo muito importante para o Benfica com um grande golo - e quem nem foi marcado com o seu melhor pé.
Alan é importante em qualquer equipa. É um jogador que não tem medo de ter a bola, assume o jogo, quer ganhar e galvaniza a equipa.
Felipe fez duas grandes defesas e estava a precisar delas depois de dois jogos em que passou por grandes dificuldades. Não tinha hipóteses no golo.

6 - Não faz mal a Coentrão andar a saltar de lugar

Uma referência final para Fábio Coentrão. Não pelo que jogou nem pela perdida no último minuto dos descontos, mas por ter voltado a jogar como lateral-esquerdo depois de ter estado bem como ala. Não é de estranhar que vá alinhando umas vezes como médio e outras como lateral, nem isso lhe faz mal, porque em ambos os casos dispõe de liberdade ofensiva. Creio que, pelo menos em casa, estará fadado a ser lateral, mas, com as melhorias evidenciadas por Gaitán, até pode voltar a jogar sempre mais recuado.

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