Benfica-Sporting
1 - Dificuldade leonina em juntar linhas
Este Benfica-Sporting foi claramente um jogo intenso na primeira parte. Nos primeiros cinco minutos ficou a sensação de que o Sporting estava interessado em defender longe da sua área, mas denotava um problema que se arrastou no tempo - os sectores deixaram distâncias entre si, não se apresentaram juntos. Ora, esse posicionamento envolvia perigos, era gerador de desequilíbrios aproveitados pelo Benfica em transições e contra-ataques rápidos. Bastaram esses cinco minutos - com Cardozo a enviar uma bola ao poste logo aos 4' - para se perceber precisamente a existência de um controlo do jogo pelo Benfica, não obstante dispor o Sporting de maior tempo de posse de bola, mas com uma nuance: a mesma era permitida.
O Benfica apresentou-se mais compacto, mais veloz na recuperação da posse de bola, e essa atitude teve como consequência que ganhasse ascendente. O Benfica, ao fim e ao cabo, controlava o jogo como queria - tanto mais quanto o Sporting era vítima das suas próprias dificuldades no último terço do campo, situação bem patente no facto de ao longo de toda a primeira parte não ter rematado uma única vez à baliza de Roberto.
2 - Benfica deixou que Sporting subisse
Se o Sporting se apresentou na sua habitual forma de jogar, com André Santos na posição 6, as entradas no onze do Benfica de Maxi Pereira e César Peixoto como defesas-laterais direito e esquerdo, respectivamente, também não me surpreenderam. Maxi retomou o lugar, e César Peixoto mostrou pulmão. Mais do que a constituição das equipas, notório foi o facto de o Benfica se ter mostrado inteligente na forma como preparou o dérbi, deixando que o Sporting subisse as suas linhas para daí retirar dividendos. O Benfica teve o mérito de ser organizado e forte, inclusive nos duelos individuais, sendo, pois, bem mais perigoso do que o Sporting. E a verdade é que com o primeiro golo obtido cedo, aos 13', ainda aproveitou melhor essa vantagem. Deixou de estar sujeito a pressão suplementar e, mesmo quando recuava, fazia-o com a junção dos seus sectores e retirando dividendos quer das recuperações quer do seu maior poder físico e das transições rápidas.
3 - Domínio claro
A segunda parte poderia ter corrido menos de feição ao Benfica? Era um cenário possível, só que o segundo golo, de novo apontado por Cardozo, só quatro minutos após o regresso dos balneários, tornou ainda mais difícil a tarefa do Sporting. A vantagem era reconfortante para as hostes encarnadas e reforçou ainda mais os níveis de confiança já patenteados até então, ao ponto de três minutos depois ter estado nos pés de Coentrão a hipótese de matar o jogo. Não foi assim… e aos 58 minutos teve Liedson a primeira e mais flagrante oportunidade de o Sporting encurtar distâncias, com a qual, admito, se poderia ter relançado o jogo…
Desperdiçado esse lance, e sem que as alterações introduzidas em ambas as equipas tenham mudado o cariz do desafio, o que é facto é que o Benfica continuou a controlar os acontecimentos e as mais flagrantes ocasiões para mexer de novo no marcador pertenceram-lhe, ambas por Cardozo, aos 74 e aos 75 minutos. Ou seja: o Benfica sentiu que o domínio lhe pertencia, uma situação ainda mais evidente quando o Sporting acentuou a tentativa de fazer circulação de bola, mas sem objectividade - fez alguns remates, é certo, mas em desespero de causa. A toada do jogo não teve, pois, evidentes modificações até final.
4 - Consistência
Uma ideia-base genérica: a vitória do Benfica é justa num jogo em que não se justificavam tantas faltas (46 no total). Por norma, não me pronuncio sobre o trabalho das arbitragens, mas por me parecer evidente que as equipas não enveredaram pela dureza excessiva, dever-se-ia ter deixado correr mais o jogo… O Benfica mostrou-se mais consistente ao longo dos 90 minutos; já o Sporting denotou alguma intranquilidade em muitos períodos, como consequência de um problema que não foi capaz de sanar: ao querer defender longe da sua baliza, não foi capaz de o fazer e descompensou-se.
5 - Reconciliação de Cardozo com os adeptos
O dérbi foi feito também de protagonistas. Cardozo foi a grande figura, e não apenas pelos dois golos apontados. Depois das peripécias das assobiadelas recebidas no jogo com o Hapoel de Telavive, num sintoma de que os adeptos se estavam a voltar contra si, Cardozo teve uma noite importante para a reconciliação com as bancadas e, com ela, a retoma da estabilidade emocional, eventualmente afectada no jogo da Liga dos Campeões.
Por ser de toda a justiça, entendo também ressaltar outras duas boas exibições no relvado da Luz: as de Fábio Coentrão e Rui Patrício.
6 - Três pontos que dão moral
O resultado do dérbi tem necessariamente um outro ângulo de análise: o das suas consequências para ambas as equipas no campeonato. O triunfo dá naturalmente maior confiança ao Benfica, é motivador, permite que o seu jogo possa crescer sem pressões adicionais. Os três pontos dão-lhe moral - e é claro que, pela posição que tinha em termos classificativos, era o Benfica a equipa mais pressionada. Quanto ao Sporting, os estragos provocados pela derrota são, apesar de tudo, menores do que os que se reflectiriam no rival. O Sporting continua um ponto à frente do Benfica e, em linhas genéricas, é sempre possível considerar-se que é ainda cedo para se definirem de vez os candidatos ao título.
16 comentários:
Amigo Sloml, não vou comentar a crónica porque há dias não gostei duma do JVP!
Abraço.
Eheheh, o Manuel é que sabe. Já por aqui falámos muito disso. Ele não quer comentar arbitragens e penso que está no seu direito.
Um abraço
Sloml, claro que o JVP tem todo o direito de não comentar arbitragens, até porque O Jogo tem quem faça isso, mas acho cobardia fazer uma análise a um jogo claramente influenciado pela arbitragem e não dizer uma palavra sobre o assunto. Quem já jogou e vê futebol, sabe que nenhuma equipa é de ferro para não se deixar influenciar. Aliado ao facto de já não gostar dele pelas atitudes, não falo em ter saído do Benfica porque não foi culpa dele, mas as agressões, etc.
Abraço.
Agressões, o João Pinto? Que agressões?
A mais grave de todas e que podia/devia ter levado à sua irradiação, ao árbitro no Mundial da Coreia/Japão!
Ah, o Manuel estava a falar no geral. Pensei que se estivesse a referir a agressões frente ao Benfica. Pronto, isso são opiniões pessoais de cada um. O próprio João Pinto pagou por isso ao nunca mais ser chamado à selecção (ele que ainda podia ter dado muito à equipa no Euro'2004).
Ele não comenta arbitragens porque já se passou, há muito, para o lado de lá. Foi PC ao casamento, comentador da SPORTV e do Nojo. Já deve ter perdoado ao Paulinho as 7 cotoveladas do Paulinho Santos, conforme lhe sugeriu o Pintarolas...
Eu que até tive pena dele ter sidi empurrado para os lagartos.Uma grande decessão.
Ele não comenta arbitragens porque já se passou, há muito, para o lado de lá. Foi PC ao casamento, comentador da SPORTV e do Nojo. Já deve ter perdoado ao Paulinho as 7 cotoveladas do Paulinho Santos, conforme lhe sugeriu o Pintarolas...
Eu que até tive pena dele ter sidi empurrado para os lagartos.Uma grande decessão.
Gaspar, já lhe respondi a tudo isso no último post que fiz do João Pinto.
Pois é amigo Sloml, não gosto e pronto! Para mim é um mau carácter mas também não se podia pedir mais com a educação que teve.
São pontos de vista, Manuel. Eu não o considero minimamente mau carácter e até me revejo muito nele. Foi uma pessoa obrigada a crescer precocemente, sempre teve de fazer pela vida para proporcionar as melhores condições à família e, além da classe que tinha a jogar ("até a andar", como disse uma vez Maradona), tinha aquele carácter de inconformado (inconformado, não arruaceiro) que eu tanto gosto de ver nos jogadores (como Carlos Martins, por exemplo). Não vejo onde ele possa ser um mau carácter e onde possa ter tido má educação. Explodir contra os adversários ou árbitros, já aconteceu a muitos ou a quase todos. Até o nosso novo seleccionador foi castigado por 6 meses após o Euro'2000 por alegados abusos contra o árbitro do França-Portugal, tal como o Nuno Gomes levou 10 meses. São mau carácter e arruaceiros? Não acho.
Sloml, encerramos por aqui. Não nos vamos chatear por causa dum João Pinto qualquer.
Abraço.
Ahahah. Claro, Manuel. As opiniões apenas divergem.
Boas... Estou a ver que a discussão já vai longa. Só acho que, sinceramente, e sempre gostei dele no Benfica, tenho uma opinião generalizadamente boa dele, foi profissional enquanto jogador, teve os seus momentos piores, como eu, e penso que todos, já tivemos, teve também os seus momentos mais altos, ou seja, é humano.
O que acho, então, é que ele, não falando de arbitragens, não deveria ter feito neste post, e não foi preciso muito, portanto, em relação ao jogo anterior do Benfica, para, quando ele diz não falar de arbitragens, quando o problema foi escandaloso no anterior, falar agora de 46 faltas. Ok, são muitas, mas não são, a meu ver, mais graves do que o que o Benfica foi prejudicado no jogo anterior, e ele também saberá disso, e por isso, falar de faltas, apitadelas para manter o jogo «calmo» e não falar das tristezas que se viram na semana passada é que é mau da parte dele. Ok, não fala? Não fala nunca, não é cá falar de faltinhas quando não houve erros grosseiros como na semana anterior que foram por ele esbatidos, ao não falar deles, como apenas e só méritos do adversário, por muito bem que o Guimarães tenha jogado. Só isso...
De resto, somos todos homens, somos todos humanos, todos erramos, todos acertamos (bom, alguns nunca acertam, ehehehh) e cá vamos indo!
Abraço
Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera
Bimbosfera.blogspot.com
Márcio, eu sei que vamos andar aqui sempre à volta do mesmo assunto. Aqui o homem entendeu falar disso talvez exactamente por não ter havido nenhum erro grave do árbitro. Se tivesse, ele não falava de certeza. Assim falou disso como uma condicionante para a prática do bom futebol. Mas eu não sou ninguém para defender quem quer que seja. Cada um tem a sua opinião. Eu apenas posto as crónicas dele por todas as razões que já fui enumerando ao longo deste blog, mesmo que me continuem a dizer que ele é anti-benfiquista e tudo mais. Eu sei que nada disso é verdade.
Só um «p.s.-» meu, pois não acho que ele seja anti-Benfiquista...
Eventualmente poderia era assumir o facto de a arbitragem ser um factor do jogo, e ele bem saber disso, para evitar levar a leituras erradas, como o caso do Guimarães, em que parece que só deu Guimarães, e que nem foi o resultado alterado, seriamente, como contra a Académica, nem nada...
Mas de resto estou mais de acordo com a tua opinião...
Abraço
Márcio Guerra
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