segunda-feira, 13 de setembro de 2010

RAP


O futebol português rejuvenesce

Há duas semanas, escrevi aqui que a época 2010/2011 começava naquele dia, quando o Benfica jogasse com o Vitória de Setúbal. O jogo acabou com a vitória do Benfica por 3-0, e eu convenci-me de que tinha razão. Afinal, devo confessar que me enganei. Não estamos a assistir ao início da época 2010/2011. O campeonato que agora começa é o respeitante à época 1996/1997. Aquele ano em que se juntaram, na primeira divisão, árbitros como José Pratas, Augusto Duarte, Soares Dias e Isidoro Rodrigues, entre tantos outros. A arbitragem de ontem, em Guimarães, foi de 96/97. Até quem viu o jogo em casa sentiu o cheiro a naftalina. E os apreciadores de antiguidades terão admirado o rigor com que Olegário Benquerença aplicou as regras daquela altura.
Foi um espectáculo comovente. Quando um jogador vimaranense tentou separar a perna do Aimar do resto do corpo com um pontapé, dentro da área do Vitória. Senti-me 14 anos mais novo. A falta não assinalada que Carlos Martins sofreu, também dentro da área, fez me recuar à juventude. O fora de jogo inexistente que impediu Saviola de ficar isolado à frente de Nilson trouxe-me à memória o viço dos meus vinte anos. E, quando Cardozo viu um cartão amarelo por ter marcado um golo limpo, quase chorei de nostalgia. Sou um sentimental, e estes regressos ao passado comovem-me. Só não percebo a razão pela qual este Vitória de Guimarães-Benfica foi transmitido pela SportTV, em lugar de ter passado na RTP Memória. Quanto a Olegário Benquerença, já conhecíamos o seu talento como imitador de Quim Barreiros (quem não conhecer, veja o vídeo no YouTube). Mas não sabíamos que ele também tinha jeito para imitar o Martins dos Santos.

Que se saiba, ninguém seguiu o conselho de higiene institucional que Carlos Queiroz nos deixou, gratuitamente, em meados da década de 90: não há notícia de alguém ter varrido a porcaria da Federação. Não serei eu a pôr em causa a necessidade de varrer porcaria, seja na Federação ou noutro sítio, mas, não tendo a porcaria sido varrida, foi com porcaria que Humberto Coelho chegou às meias-finais de um Europeu, e foi na companhia da mesma porcaria que Scolari conseguiu ser vice-campeão da Europa e quarto classificado num Campeonato do Mundo. Bem sei, bem sei: o mérito dos feitos de Humberto Coelho e Scolari é todo de Carlos Queiroz. Foi ele quem lançou as bases. Construiu a estrutura. Pensou o edifício das selecções. E a responsabilidade pelo actual momento da Selecção é de todos menos de Queiroz. Por azar, ele tomou conta da Selecção precisamente na altura em que o efeito da sua obra começou a desvanecer-se. Os seus predecessores destruíram as bases, ignoraram a estrutura e borrifaram-se no edifício. Curiosamente, Carlos Queiroz tem mais mérito e influência nos resultados da Selecção quando não está a treiná-la do que quando é seleccionador nacional. E, mesmo quando está longe, Queiroz consegue ser autor moral apenas dos êxitos: é ele o responsável pelo sucesso da equipa que fez um brilharete no Euro 2000, mas não tem responsabilidade nenhuma no desastre do Mundial de 2002, sendo que a chegada à final do Euro 2004 volta a ter o seu dedo.
O despedimento de Queiroz deve agradar, por isso, a ambas as partes: à Federação — que, com processos disciplinares consecutivos, fez tudo para o despedir sem nunca dizer que queria despedi-lo; e ao seleccionador — que, insultando os médicos na Covilhã e o vice-presidente da Federação no Expresso, fez tudo para ser demitido sem nunca dizer que queria demitir-se. Por um lado, é uma pena que Queiroz e a Federação se separem. Fazem um lindo par.
No fim, a cabeça do polvo, pelos vistos, conseguiu o que queria — o que significa que este é o segundo octópode a ser bem sucedido no mundo do futebol em meia dúzia de meses. Infelizmente, dizem-me que ficávamos mais bem servidos se o polvo alemão que adivinhava resultados viesse ocupar o cargo de vice-presidente da Federação e Amândio de Carvalho fosse para dentro daquele aquário na Alemanha.

Por Ricardo Araújo Pereira, 11 de Setembro in jornal A Bola

12 comentários:

Bimbosfera disse...

Sempre certo, o artolas... Incrível!

Abraço

Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

Bimbosfera.blogspot.com

Unknown disse...

Caro RAP,
Nunca duvidei das suas capacidades de humorista, mas sempre desconfiei que o seu assumido amor pelo SLB poderia originar alguma falta de perspectiva. Ora vejamos: no rescaldo das duas, perdão três primeiras derrotas da época, todos os dedos, espingardas e metralhadoras estavam apontadas para a baliza... Agora, e porque é incómodo crucificar Jesus e Luís Filipe Vieira, tanto pela compra de um guarda redes pelo preço de um avançado como pela dispensa do Quim, como pela venda do Di Maria e do Ramirez, voltamos aos bons velhos tempos do sistema, do Pinto da Costa, e das arbitragens...
O início da época fez-me lembrar a época de 68-69 em que tudo era permitido ao SLB, até mesmo partir pernas aos jogadores das equipas adversárias sem um cartãozito sequer, um pouco à semelhança daquilo que fizeram em anos consecutivos no dragão... Mas a arbitragem nunca esteve a favor do SLB (o Vata que o diga).
A falta de memória deve estar associada a falta de perspectiva, quem sabe.

Bimbosfera disse...

Caro Pinto, mas estão a dar-lhe com o Vata porquê? Porquê? Tem prova documental que foi golo com a mão? É mais fácil simplesmente dizer isso, e não foi para uma prova nacional sequer. Ou seja, isso sim, são desculpas de mau pagador, e é mais fácil apontar o dedo para outras coisas quando não temos o que dizer das que nos são apontadas. Ninguém é obrigado a gostar, ler, concordar com o que ele diz, mas, convém lembrar que quando apontamos um dedo a alguém, como essa história do Vata, temos 4 a apontar para nós. É como o mistério pouco misterioso das escutas, por exemplo, aliás, nestes últimos 30 anos tem sido tudo a favor do Benfica, mão do Vata incluída.

Abraço

Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

Bimbosfera.blogspot.com

JoZé disse...

Uma nova Liga sem o FoCorruPorto é a solução. Tudo o resto é remendo...

Jotas disse...

Eu até proponho,haja honestidade, dê-se logo o título ao Porto e deixem os outros disputar honestamente o campeonato e de certeza que o 2º lugar será atribuído ao melhor.

João Magalhães disse...

Nao conheço a historia do Vata, mas gostava. Só pk acho piada a uma coisa: "Caro Pinto, mas estão a dar-lhe com o Vata porquê? Porquê? Tem prova documental que foi golo com a mão?". Sobre o famoso "golo do petit ao baía. Todos dizem k foi golo, mas o curioso são as imagens k mostram k a bola estava 1 cm em cima da linha...

JoZé acho k realmente o FCP não deveria jogar na liga portuguesa. Assim mostrava que mesmo noutra liga tem qualidade.

Bimbosfera disse...

Caro João Magalhães, se forem jogar para outra liga, como era bom que fizessem, a falar mesmo a sério, sabe que o vosso plantel só não chega. Sabe que teria que jogar com os avançados todos que por cá «polulam», sendo que hoje em dia, em vez de preto, equipam mais de amarelo, e não falo do vosso equipamento alternativo.
O vosso clube é corrupto, é assumido, e só os buracos na lei permitem que tal «coisa» se passe, em Portugal, sem punição.
Sobre a história do Vata não há uma única imagem clara sobre poder ter sido com a mão golo.
Sobre a bola do Petit há «milhentas», de ângulos perfeitamente acessíveis, não ao Olarápio, admito, mas ao fiscal, que mostram que a bola estava claramente lá dentro. Estava até mais dentro do que o empate do Cardozo, há 2 anos, contra vocês, no 1-1.
Era muito, mas muito mais escandalosa do que essa do Cardozo... e não foi golo!
Não são os nossos guarda-redes que parecem líberos a defender com as mãos fora da área, como acontecia com o Baía...
Coisas da vida, não é? Descanse, fique sossegado. Vão lá para a vossa liga, levem o vosso exército corrupto convosco, e deixem cá ficar quem quer ganhar COM JUSTIÇA, sem ajudas, como nós queremos!

Passar bem.

Márcio Guerra

João Magalhães disse...

Marcio, eu via a análise do lance digitalmete e com recurso a geometria. Voce pode nao saber o k é uma paralela (linhas equidistantes), mas com recurso a estas e por análise geométrica (ciência exacta) Vê-se k a bola está em cima da linha 1cm. É pouco? Sim, mas pela lei não é golo. Como se isto não chegasse um jornal desportivo recorreu ao design gráfico, ou seja, coloriu a entrada da baliza (em cima da linha de golo criou uma cortina) e deixou o lance correr em frames. Quer saber a curiosidade? Em nenhum momento se vê a baliza toda azul...
Quanto ás imagens que refere mostre apenas uma com medição e que se veja que a bola está lá dentro, pk a mim dizerem-me k a bola está la dentro a olho nao me interessa. Facilmente encontra centenas de ilusões de óptica. Mas mostre-me uma imagem apenas e eu nao toco mais no assunto.

Bimbosfera disse...

Olhe, eu deveria seguir o conselho do Sloml e não lhe responder mais nada, aliás, já no comentário anterior não deveria levar resposta.
Primeiro que tudo, falar-me de linhas equidistantes, de geometria, de design gráfico, bom, calhou-lhe mal falar precisamente disso, pois sou designer, tive geometria até ao 12º ano, mais 2 anos no ensino superior, antes de Bolonha...
Pode ver o meu perfil, se não o do Bimbosfera, o outro, que é meu também, mguerra79, que está no meu blog.
Falar-me disso, e falar do que quer realmente dizer, é-me igual ao litro. Sei o que são ilusões de óptica, sei o que são estereogramas, sei o que é que o fiscal de linha, bandeirinha, assistente, chame-lhe o que quiser, tem que ver. Não viu. Não viu por incompetência, como é o mal, geral, dos árbitros em Portugal, aliado à «escada» do sistema para subirem nas carreiras.
Meu amigo, mostro-lhe as imagens mais rapidamente, e o senhor chame-lhe o que quiser às mesmas, do que o senhor me mostrará uma do Vata.
Isso é certo...
Depois, pense o que quiser. E digo-lhe mais, dei mais crédito à dificuldade na época do que dei recentemente, após, ponderadamente, já sabendo se influenciava ou não o resultado final do campeonato, e por isso lhe digo, foi, efectivamente, golo. Não quer ver, não veja. Hoje, já desligado emocionalmente da jogada, do tempo, vejo claramente que foi.
Essa é daquelas que se têm vindo a passar recentemente na comunicação social «ah e tal, não jogam com o fulgor e brilhantismo do ano passado», pois, e andámos meia época, mais as férias, a ouvir falar de túneis...
É assim a vida.
Passar bem, que já não respondo mais!

Márcio Guerra

João Magalhães disse...

Eu não preciso que me responda. O certo é k pedi uma imgaem, e você não foi capaz. Se é designer e viu as imagens k falo nao viu a bola la dentro. A minha 1ª impressão do lance? A bola entrou, o certo é k as imagens nao mostram o mesmo...

Bimbosfera disse...

Aqui vai:

http://4.bp.blogspot.com/_L9785OJh8M4/S9mLhCxBKJI/AAAAAAAAAQc/xU3rXy17aPc/s1600/Olar%C3%A1pio.jpg

Entretanto, a «geometria» que o senhor deve ter visto foi esta:

http://img73.imageshack.us/img73/5079/Baia.jpg

Se as linhas não são colocadas onde devem ser temos «soluções» para todos os gostos. Tenho 31 anos, posso me considerar bem treinado, a nível visual, e como tal escolha a que quiser, com linhas, sem linhas... Nunca me dei, nem vou, dar ao trabalho de por as linhas a defender o que digo. E foi o último comentário de resposta.

Passar bem.

Márcio Guerra

João Magalhães disse...

Para um designer a sua noção de perspectiva. Veja os desenhos de Escher e depois falamos.