Liverpool 4 - 1 Benfica - Quartos-de-final Liga Europa 09/10

Foi bom enquanto durou. Esta noite acabou-se o sonho de conseguirmos vencer a 1ª Liga Europa. O jogo de hoje serviu, contudo, para tirarmos várias ilações sobre a nossa equipa. E a verdade é esta: nós, na nossa visão de adeptos, obviamente turva e parcial, começámos a deslumbrar-nos com a série de muitas vitórias e grandes exibições da equipa nesta época, e deixámos de nos aperceber de algumas lacunas desta equipa e deste plantel. Obviamente que antes não éramos os melhores e agora passámos a ser os piores por sermos eliminados pelo Liverpool. Nada disso. Mas a verdade é que hoje ficou à vista de todos que o Benfica ainda não tem uma equipa que consiga ombrear com as grandes potências da Europa (e o Liverpool desta época nem o é, nem de perto nem de longe). Porque nos falta experiência nestas andanças, tanto ao plantel como ao treinador (e isso ficou bem visível hoje em algumas das suas decisões). Ainda assim, e apesar dessa falta de qualidade/opções para algumas posições e da inexperiência do plantel/treinador, até poderíamos ter passado esta eliminatória e, quem sabe, chegar à final da competição e ganhá-la. Mas os erros a este nível pagam-se muito caro e hoje houve erros de palmatória de quase todos os jogadores e principalmente do treinador. Exactamente: hoje, Jorge Jesus foi o grande culpado pela nossa eliminação.

E foi o grande culpado por uma série de razões. A primeira das quais diz respeito ao guarda-redes, e aqui eu faço um mea culpa: desde o início da época que digo aqui, porque acreditava nisso, que Júlio César é o melhor guarda-redes do plantel e que era ele que devia ser o titular habitual. Nada mais errado. Ficou hoje provado, mas também já se tinha visto noutros jogos, que o brasileiro ainda não tem estaleca para estas andanças, para estes jogos tão cheios de pressão. Uma coisa é defender bem no Belenenses, no campeonato português, outra coisa é estar no Benfica e ter de defrontar Liverpool e para o ano ainda maiores colossos europeus. Este filme ainda não é para Júlio César. Nisto, tenho de concordar a 1000 % com o grande Coluna d'Águias Gloriosas, que leva a vida a dizer que devem jogar sempre os melhores e que os treinadores não podem cair no engano de querer rodar os jogadores nas diferentes competições e/ou de pôr a jogar alguns só para os premiar por serem bonitos ou bons rapazes. Não digo que fomos eliminados por causa do Júlio César, nada disso. Mas a verdade é que com um guarda-redes a sério não tínhamos sofrido aquele golo ridículo (o de Kuyt) e continuaríamos na frente da eliminatória por mais tempo. O jogo seria outro, basicamente. Assim, com aquele golo ridiculamente consentido (mas qual falta, há é muita falta de jeito/coragem do brasileiro, que nem se faz à bola, na pequena área!), o Benfica passou a ter de se abrir, a ter de atacar para virar a eliminatória, concedendo muitos espaços, aproveitados de forma soberba pelos ingleses (os 3 restantes golos deles foram todos em contra-ataque: penso que é elucidativo do que estou a dizer). Como diz o Coluna d'Águias Gloriosas, o guarda-redes titular em todas as competições devia ser Quim, desde o início da época. Porque, dando a mão à palmatória, ele é, realmente, o melhor guarda-redes do clube. (Separando as águas, porque uma coisa não tem a ver com a outra, desejo as rápidas melhoras ao Júlio César, que sofreu um traumatismo craniano. Espero que não seja nada de grave)

Depois, o erro de colocar o Luisão em campo quando ele esteve todo o jogo visivelmente nos limites. Ou não tinha jogado na Figueira da Foz, ou não jogava hoje. Será que o Sidnei ou o Miguel Vítor não o poderiam ter substituído na Figueira? Tinha mesmo de jogar, forçando a lesão? Claro que hoje estava de rastos e sem velocidade para acompanhar os rapidíssimos Torres e Kuyt. Claro. E isso, aliado à pouca velocidade natural de Sidnei, nunca podia dar bom resultado. A passagem de David Luiz para a esquerda hoje não teve consequências de maior. Porque ele é muito melhor central que defesa-esquerdo, mas hoje não foi por aí que deu barraca.

Por último, JJ falhou na 1ª substituição. Era Aimar que devia ter saído e Carlos Martins passava para o seu lugar. O português estava (como tem estado nos últimos jogos) muito melhor que o argentino. Com esta substituição, JJ retirou à equipa o pouco de imprevisibilidade que ainda se vislumbrava (Di María voltou a estar quase invisível). E Fábio Coentrão entrou tardíssimo no jogo.

Uma última palavra não para JJ, que neste caso não teve culpa. Eu sei que quase todos os adeptos benfiquistas têm uma adoração especial por David Luiz. Eu também o considero um jogador com um talento excepcional, mas admito que não me encanta como à maioria dos benfiquistas, porque tanto consegue lances de génio como logo a seguir deita tudo a perder. E se repararem bem, a maioria dos golos sofridos esta época são culpa dele. É a realidade. E hoje, para mim, um dos maiores culpados da derrota também é ele. No 4º golo dos Reds, aquela perda de bola no meio-campo que permite o contra-ataque do Liverpool é de bradar aos céus. Depois já não recuperou, obviamente, e havia um buraco no lugar onde ele devia estar. Nós tínhamos marcado o golo da esperança, só nos faltava um para ficar em vantagem na eliminatória (e confesso que acreditava totalmente que o íamos conseguir) e, no meu entender, aquela perda de bola fez-nos ser eliminados. Mais uma vez, David Luiz esteve no pior. Coincidências.

Em relação às lacunas no plantel, há algumas que são demasiado óbvias. Uma delas, eu já a referi aqui diversas vezes. Falta-nos um guarda-redes de topo, daqueles que garantem pontos. Daqueles que intimidam os avançados adversários. Há guarda-redes que não sofriam os golos de Lucas e de Torres (o último), que os fariam borrar-se de medo naquele momento de rematar ou fintar. E nós não temos nenhum assim.

Lateral-direito. Só temos Maxi Pereira e o desenrasca Ruben Amorim. Não chega. Luís Filipe é um mero figurante.

Centrais. Por muito bons que sejam Luisão e David Luiz, não podem jogar sempre mesmo que estejam nos limites. Tem de se dar confiança a Sidnei e Miguel Vítor, que também são muito bons, e isso só se consegue colocando-os em campo mais vezes. Na Figueira, um dos 2 podia muito bem ter sido titular e tínhamos ganho à mesma. Massacrar Luisão com Sidnei e Miguel Vítor no banco é passar uma imagem de pouca confiança aos jogadores.

Não temos um defesa-esquerdo de qualidade. Fábio Coentrão é uma boa adaptação, mas não deixa de ser adaptação, e César Peixoto cumpre, mas não é um jogador de topo. Jorge Ribeiro é figurante.

Temos 2 grandes nºs 10, Martins e Aimar, mas os 2 têm o mesmo problema: não aguentam mais de 70 minutos, o que é grave em jogadores com menos de 30 anos. Quando jogam os 2 de início, o treinador já sabe que tem de gastar 2 substituições ali. Não dá. Precisamos de um 10 de classe mundial que aguente o jogo todo. Para termos de comparação: Rui Costa, com 36 anos, jogava o jogo todo e carregava a miserável equipa dessa época às costas. E Felipe Menezes não é a solução, obviamente.

Não temos uma alternativa a Saviola. Weldon, Éder Luís e Nuno Gomes não chegam aos calcanhares do argentino. Mantorras é figurante.

E não temos um grande ponta-de-lança, um jogador de classe mundial. Cardozo é apenas um bom ponta-de-lança. Precisávamos de um melhor ainda, que não falhe tantos golos, que nos dê pontos, verdadeiramente. Kardec mão é, obviamente, esse jogador.

E pronto, penso que já disse tudo o que me ia na alma. Quanto ao jogo em si, começámos bem, ao ataque, mas rapidamente a pressão do Liverpool se fez sentir. Nalguns momentos do jogo fomos mesmo sufocados pelos ingleses. O golo de Kuyt acabou por surgir aos 27 minutos e o Liverpool já fazia por merecê-lo, se bem que noutras condições nunca tinha sido ali, naquele momento.

7 minutos depois, um passe mortal de Gerrard (que mal se viu nesta eliminatória mas acabou por estar em momentos decisivos) isolou Lucas, que teve a frieza suficiente para enganar Júlio César e marcar.

O 2-0 ao intervalo não era mau e fazia lembrar Leverkusen. No entanto, o golo de Torres (claramente o melhor jogador do Liverpool) aos 58 minutos, depois de mais um livre terrivelmente marcado pelos jogadores do Benfica (quando é que deixam de ter a mania de marcar os livres e os cantos rasteiros?) que acabou por resultar num contra-ataque venenoso, quase dissipava as dúvidas sobre o vencedor da eliminatória.

De súbito, a esperança renasceu para os benfiquistas. Um livre bem cavado por Ramires deu a Cardozo a oportunidade de fuzilar Reina, e o paraguaio não a desperdiçou, trazendo o Benfica de novo para a luta.

Mas o golpe de misericórdia chegaria a 8 minutos do fim, num lance já esmiuçado acima.

E assim ficámos fora das meias-finais da Liga Europa, onde até iríamos defrontar o muito acessível Atlético de Madrid. Realmente, se tivéssemos eliminado o Liverpool, não tenho dúvidas de que esta competição seria vencida por nós, pois Atlético de Madrid e Hamburgo ou Fulham estão perfeitamente ao nosso alcance. Paciência, não conseguimos e não tenho dúvidas de que o caneco irá para a terra dos Beatles. Fica para uma próxima oportunidade, que surgirá assim que consigamos resolver todos os problemas que enumerei acima. Com um plantel à medida do que apontei, poderíamos sonhar em chegar mais longe tanto na Liga Europa como na Champions. Até lá, temos de nos superiorizar internamente, marcar uma hegemonia e suprir essas lacunas para voltarmos a ser um grande da Europa. Para já, já conquistámos muito prestígio com esta brilhante participação. Segue-se um importantíssimo confronto com o Sporting, para o campeonato, em que se vencermos fica-nos a faltar apenas 2 vitórias e um empate para conquistar o título. E, como acredito que o Braga vai tropeçar antes disso (talvez já este fim-de-semana em Leiria), cheira-me que seremos campeões em casa com o Olhanense e que vamos ao Dragão já com o título na mão. É um palpite. Rumo ao 32º!

O resumo do jogo, aqui: