quinta-feira, 22 de abril de 2010

O nosso plantel XVI - Carlos Martins

O homem que se segue neste escrutínio, depois de Quim, Moreira, Júlio César, Maxi Pereira, Luís Filipe, Luisão, David Luiz, Sidnei, Miguel Vítor, Roderick Miranda, César Peixoto, Shaffer, Javi García, Ruben Amorim e Ramires, é um dos elementos mais importantes das segundas linhas da equipa: o irreverente Carlos Martins.


Formado nas escolas do Sporting, onde jogou durante muitos anos, Carlos Martins acabou por vir para o Benfica depois de um ano a jogar (e a brilhar) no Recreativo de Huelva, de Espanha. Rui Costa, que se havia retirado dos relvados no fim da época anterior, anunciou-o de imediato como o seu sucessor na posição 10 do clube. O que é certo é que poucos dias depois chegou Aimar, e Martins acabou por ser relegado para um papel secundário. Ainda assim, beneficiando da frágil condição física do argentino, Carlos Martins conseguiu fazer 24 jogos no campeonato, embora apenas 4 completos e muitos outros como suplente utilizado. Acabou por não marcar qualquer golo nem dar muito nas vistas na época complicada do clube. O ponto alto da época foi mesmo o papel que desempenhou na conquista da Taça da Liga, a única competição onde marcou com a camisola do Benfica (na fase de grupos, em Guimarães). Na final contra o Sporting, Carlos Martins foi o escolhido (ou pediu para o ser) para marcar o penalty decisivo. Não o desperdiçou, e festejou como um louco na cara de Paulo Bento, treinador que o havia escorraçado de Alvalade 2 anos antes. A vingança estava completa. Mas a época de Martins não havia correspondido às elevadas expectativas depositadas na sua contratação.


Para a nova temporada, parecia ser apenas mais do mesmo. Aimar manteve-se, Jorge Jesus chegou e o esquema mudou, de 4-4-2 clássico para 4-4-2 losango. Martins, que também pode ser utilizado como médio interior direito, poderia ganhar assim mais espaço para lutar pela titularidade e foi mesmo o dono desse lugar no encontro inaugural da Liga, em casa com o Marítimo. O problema é que o médio acabou por se lesionar logo aos 17 minutos, perdendo logo aí a titularidade para o brasileiro Ramires. Entretanto, chegava ao plantel outro 10/interior direito brasileiro, Felipe Menezes, o que colocava Carlos Martins em muito maus lençóis. Aliado à forte concorrência, Martins começou a padecer de longas e irritantes lesões, sobretudo a nível muscular (mas acima de tudo psicológicas) que o impediam de dar um contributo continuado à equipa (relembre-se o jogo brilhante que fez com o Paços de Ferreira, o primeiro após regressar da tal lesão contraída frente ao Marítimo, em que fez uma assistência e um grande golo... tudo em apenas 45 minutos, pois saiu ao intervalo lesionado; depois fez mais um grande jogo com o Monsanto, onde marcou 2 golos, e 2 jogos depois, com o Nacional, entra aos 73 minutos e sai 5 minutos depois, queixando-se de dores musculares: assim não há treinador que aguente...). Depois destas peripécias, Carlos Martins só voltou a aparecer nas vésperas do jogo com o Porto, na recepção ao AEK, em que jogou a... trinco, e muito bem. Acabou por ganhar a titularidade para o jogo com o Porto, onde voltou a estar em bom plano, e a partir daí tem vindo a alternar a titularidade com Aimar e Ramires, ora a 10 ora a interior direito. Fruto de algumas excelentes exibições e muitos golos do outro mundo (com destaque para o golo magnífico apontado na final da Taça da Liga - mais uma vez - frente ao Porto), Martins voltou a cair nas graças dos adeptos, que agora até já hesitam sobre quem deve ser titular, se o português, se Aimar. Ao todo, Martins tem já 28 jogos disputados e 7 golos marcados (15 no campeonato - e 3 golos -, 1 na Taça de Portugal - e 2 golos -, 4 na Taça da Liga - e 2 golos - e 8 na Liga Europa).


Confesso que aprecio muito as qualidades futebolísticas de Carlos Martins. Apesar de por vezes se entusiasmar e demorar muito tempo a soltar a bola, e dos seus passes não sairem sempre acertados, Martins joga de cabeça levantada, de passada larga, e procura sempre os caminhos mais acertados para colocar a bola perto da baliza adversária. E se é verdade que faz alguns passes falhados, não é menos verdade que muitas vezes consegue passes fantásticos que depressa se transformam em assistências para golo, tal a qualidade com que os fez e que deixam isolados os companheiros na cara dos guarda-redes adversários. A juntar a isto tem a força e colocação do remate, que chega muitas vezes a ser espantosa, e tem outra coisa que aprecio muito: garra, raça, ambição e vontade de vencer própria dos grandes guerreiros, dos grandes jogadores. Carlos Martins tem fibra de campeão. Mas como há sempre um lado mau em tudo, Carlos Martins tem também algo que muitas vezes o trai: um feitio absolutamente explosivo e intempestivo. Não consegue acatar uma decisão contrária do árbitro sem protestar, não se contém nos protestos mesmo contra colegas de equipa e não tem a mesma força psicológica que tem física. Porque desengane-se quem pensa que Martins não tem muita capacidade física. Treta. Carlos Martins tem capacidade física. O que ele não tem, e isto não se pode admitir num profissional de futebol, é capacidade psicológica para lidar muitas vezes com o esforço e com a pressão. Porque é inconcebível que um jogador com 27 anos não consiga fazer mais de 2 ou 3 jogos completos numa época, que tenha de ser sempre substituído ao fim de 60 ou 70 minutos, que nessa altura do jogo já esteja esgotado. É inconcebível. E isto acontece porque ele não tem a força mental necessária para suportar jogar em condições um pouco adversas. Se tivesse um melhor acompanhamento a este nível (mas desde sempre, não só agora mas sim desde sempre), Carlos Martins seria, sem sombra de dúvidas, o melhor 10 português da actualidade. Tinha (e tem) potencial para ser um médio extraordinário. É pena que muitas vezes pareça esquecer-se ou nem sequer acreditar nisso. É realmente pena. Mas que não há nenhum melhor que ele na actualidade em Portugal (ao mesmo nível, talvez só Nuno Assis), isso não há, e Carlos Queiroz deveria estar atento a isso, ainda para mais agora que o "seleccionável" Rúben Micael se lesionou e ficou fora do Mundial. Para suplente de Deco (e mesmo isto eu já considero abusivo, porque Deco tem sido quase toda a época suplente no Chelsea), Queiroz só pode mesmo pensar em Nuno Assis ou Carlos Martins. Para mim, iam lá os 2.

Que pensam os leitores?

6 comentários:

Éter disse...

Sou fã daquela loucura no olhar. Todas as equipas precisam de um Carlos Martins.

É óbvio que tem lugar de caras nos convocados para o Mundial. Infelizmente para ele uma das poucas pessoas que acha o contrário é quem manda.

ana_slb disse...

Sloml, eu também sou apreciadora do Carlos Martins. Como dizes e muito bem tem "garra, raça, ambição e vontade de vencer própria dos grandes guerreiros, dos grandes jogadores" é sobretudo isso que aprecio nele. Tem um estrondoso remate que já permitiu grandes golos. Depois de vários períodos de interrupção, tem estado mais constante. Tem um feitio muito particular que não o ajuda muito.
Por mim devia ser convocado para o Mundial, tanto ele como Nuno Assis. Neste momento ambos mereciam ser chamados por Carlos Queiroz.
Saudações benfiquistas!

P. disse...

Obrigado pela mensagem no "Portimonense 1914".

Adicionámos o vosso blog às ligações recomendadas. Se houver festa, levamos o medronho :)

Saudações Algarvias!

Vermelhusco disse...

O Carlos Martins parece ter ganho um pouquinho mais de juizinho na cabeca esta epoca. Ca para mim, ele deve ter um parafuso a menos.

Mas nota-se que finalmente ja tem um pouco mais de controlo emocional e o JJ tem sabido gerir a condicao fisica deste jogador muito bem, assim como a do Aimar.

Este ano o Benfica tem dois meios numeros 10 em termos fisicos, mas isto acaba por trazer alguma vantagem a equipa pois sao os dois tao distintos na forma como distribuem jogo que o Benfica varia muito na forma de jogar quando um dos dois assume o jogo tornando a equipa muito menos previsivel para os adversarios.

Bimbosfera disse...

Boas, de volta após uns dias sem tempo para nada mais que um postzinho diário no meu Bimbosfera.

Em relação ao post em si, Carlos Martins, já gostava dele desde que andava emprestado à Académica, mas duvidava que pudesse vir parar ao Benfica, pois era emprestado pela lagartada, e sem dúvida que o quereriam emprestar, rodar, para crescer, e voltar em grande ao clube. O certo é que a vida dá muitas voltas e o Martins é nosso. Que lute, que a sorte dele é a nossa. Que a próxima época seja tão boa ou melhor que esta. Já agora, pensava que tinha marcado na primeira época... Estranho... Mas se tu dizes eu acredito sem ir confirmar!

Abraço

Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

http://Bimbosfera.blogspot.com

sloml disse...

Éter, Ana e Vermelhusco, concordo integralmente.

P, muito obrigado. Hoje passei pelo Marquês e vi os papéis com a "reserva". Lá estarei caso se concretize. Muita sorte para amanhã. Estarei a ver o jogo e a torcer por Portimão.

Márcio, segundo os meus dados, no campeonato não marcou qualquer golo. Apenas fez um em Guimarães para a Taça da Liga.

Abraço a todos